A premiada jornalista russa Anna Politkovskaya foi encontrada morta a tiro na tarde de sábado, dia 7 de Outubro, no elevador do prédio onde residia, em Moscovo, havendo suspeitas policiais de que se tratou de um homicídio relacionado com a sua profissão.
Anna Politkovskaya já havia sofrido anteriormente ataques ligados ao exercício do jornalismo, nomeadamente um envenenamento quando se tentava deslocar a Beslan para acompanhar o sequestro de crianças, em Setembro de 2004. Entre os ataques ou pressões sofridos por parte de Anna, contam-se ainda uma detenção durante três dias em 2001, quando foi acusada por agentes de segurança por não possuir acreditação para entrar na Chechénia. À data, a jornalista foi colocada num buraco sem água ou alimentos e sob constante ameaça de morte. No ano seguinte, de regresso à Chechénia para investigar denúncias de abusos sobre civis, foi detida numa base militar durante uma noite e de novo ameaçada de morte. A jornalista chegou a estar refugiada em Viena, em 2001, devido a ameaças por parte de um polícia que ela acusara de abusos contra civis e há poucos meses a sua filha foi atacada enquanto conduzia, tudo indicando que se tratava de uma forma de intimidar a mãe.
A repórter de 48 anos nasceu em Nova Iorque, é filha de pais ucranianos que trabalhavam na ONU, e estudou jornalismo na Universidade Estatal de Moscovo. Fez carreira como jornalista de investigação e, no âmbito da cobertura crítica da guerra na Chechénia, escreveu sobre assassínios, torturas e espancamentos de civis pelas forças russas, recebendo vários galardões de jornalismo.
Da lista de distinções fazem parte a Caneta de Ouro, da União de Jornalistas da Rússia (2001), o Prémio Coragem no Jornalismo, pela International Women’s Media Foundation (2002), o Prémio do Pen Club International, o Lettre Ulysses para a Arte da Reportagem e o Prémio Jornalismo e Democracia, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (os três em 2003), e o Prémio para a Liberdade e o Futuro dos Média, atribuído pela Fundação de Média do banco alemão Sparkasse Leipzig (2005).
A repórter, que é também autora de livros como “Chechénia: a desonra russa”, em que apresenta provas dos abusos cometidos pelas forças governamentais sobre a população civil, ou o recente “A Rússia de Putin”, trabalhava actualmente para o jornal “Novaya Gazeta”. Anna estava a preparar uma reportagem para sair hoje no jornal onde trabalhava, sobre a tortura na Chéchénia, juntamente com imagens
A morte de Anna Politkovskaya foi já condenada pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) e a Associação Mundial de Jornais (WAN). Para a FIJ, o homicídio da jornalista reflecte o estado de “desgoverno” que ameaça o jornalismo russo, sendo imprescindível descobrir quem matou – e quem mandou matar – Anna Politkovskaya, cuja coragem e profissionalismo “inspiravam” jornalistas em todo o mundo. Por seu lado, o CPJ realçou que, desde 1992, a Rússia assistiu ao assassinato de 42 jornalistas, tendo a maioria dos crimes ficado impunes.
Os Russos e chechenos lamentam a morte da jornalista e crítica do presidente Putin, defendendo que a sua morte está relacionada com questões políticas e ameaça a liberdade de imprensa. Os Estados Unidos declararam estar "profundamente chocados e tristes" com a morte desta jornalista que deixou dois filhos e que sempre demonstrou uma coragem invejável e inabalável por qualquer motivo. A União Europeia e Washington exigiram a Moscovo que conduza as investigações imediatamente para se descobrir o(s) responsável(eis) pela morte desta mulher. Vladimire Putin não proferiu qualquer declaração sobre o assassinato de Anna.
Da minha parte lamento o sucedido e invejo a coragem desta mulher! Tenho a certeza de que ela nunca pensou em morrer de outra forma!
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