Mais um caso arquivado:
"O Ministério Público (MP) da Covilhã arquivou o inquérito extraído do processo Apito Dourado referente a indícios de corrupção desportiva em torno do jogo Sp. Covilhã-FC Marco, da II Liga. Ilibados ficaram Avelino Ferreira Torres, António Araújo, Mário Reis, Pedro Sanhudo e João Vilas Boas, o árbitro daquela partida, vencida pela equipa do Marco de Canaveses.
Em causa neste processo estavam escutas telefónicas entre o empresário António Araújo e o treinador do FC Marco, Mário Reis, cujo teor sugeria a intervenção do agente de jogadores junto do árbitro da partida. Para tal, Araújo pretendia que tal ajuda fosse pedida pelo então presidente da Câmara do Marco de Canavezes, para quem já tinha efectuado alguns "serviços". "Ele [Ferreira Torres] sabe muito bem o que é que eu já lhe fiz!", disse o empresário a Mário Reis, sublinhando que o contacto com o juiz da partida não poderia ser "com conversa". "Porque de conversa, está o mundo cheio", acrescentou.
Depois, António Araújo tentou contactar Avelino Ferreira Torres e chegou a dizer a Mário Reis que iria almoçar o com o "homem". O procurador do MP de Gondomar, Carlos Teixeira, interpretou a conversa no sentido de que Araújo iria pedir a Torres dinheiro para pagar ao árbitro da partida.
Mas, das escutas percebe-se que, pelo menos naqueles dias, o contacto com o ex-autarca do Marco nunca terá acontecido. Aliás, Araújo e Reis reconheceram a extrema dificuldade em falar com Torres por telefone. Daí, o empresário ter insistido com o treinador para que falasse com o presidente do clube, Jorge Sousa, a quem terão apelidado de "bolsos rotos". Segundo uma conversa telefónica, o objectivo é arranjar o "resto".
Apesar da dificuldade em encontrar Ferreira Torres para concretizar o "negócio", Araújo disse que isso não seria motivo para deixar de ajudar o técnico amigo. "Ouça! Se ele não estiver comigo, você conte comigo para acabar a obra! Os amigos são para estas coisas, está bem?", disse.
Para o MP da Covilhã, estes indícios são, porém, insuficientes para sustentar a acusação. Por duas razões. Primeiro porque nunca ficou provado qualquer contacto de Araújo com o árbitro principal, João Vilas Boas. A única conversa suspeita aconteceu entre um dos árbitros assistentes, Serafim Nogueira, com o árbitro e amigo de Avelino, Pedro Sanhudo, a perguntar se o Marco precisaria de "ajuda". Sanhudo sugeriu-lhe falar com o "sheriff" Ferreira Torres, o que não se sabe se chegou a acontecer. Segundo porque, inquirido no MP local, os dirigentes do Sporting da Covilhã assumiram que a derrota foi justa e o jogo não teve casos.
No despacho final do Apito Dourado, Ferreira Torres foi alvo de mais duas certidões extraídas para os serviços do MP do Marco de Canaveses e de Paços de Ferreira (ver caixa). Carlos Teixeira entendeu, por outro lado, que deveria arquivar duas situações apuradas durante a investigação da Polícia Judiciária. Uma está relacionada com o jogo FC Marco-FC Maia, da época 2003/2004, da II Liga, enquanto a segunda refere-se ao jogo Regilde-Amarante, disputado a 23 de Novembro de 2003, para a Divisão de Honra da AF do Porto.
Em ambos os casos sob suspeita estavam conversas com Pedro Sanhudo e referências a pedidos de favorecimento a outros dirigentes e árbitros. O MP de Gondomar entendeu arquivar as situações por falta de mais provas e perante a elaborada justificação apresentada por Torres à PJ para as escutas. Justificou como tendo ligado a Sanhudo apenas para fazer crer a pessoas que o acompanhavam no momento que estaria a interceder junto daquele árbitro, mas que, anteriormente, lhe tinha dito para nada fazer.
Funcionários da Câmara trabalharam em obra local
Das 81 certidões extraídas pelo Ministério Público (MP) de Gondomar no despacho final do processo Apito Dourado, Avelino Ferreira Torres aparece envolvido em mais duas. A mais curiosa tem a ver com suspeitas de peculato num segundo caso de alegada utilização de funcionários da Câmara Municipal do Marco de Canaveses em obras particulares. Concretamente em obras no edifício sede do Núcleo de Árbitros do Baixo Tâmega, presidido pelo árbitro Pedro Sanhudo. Recorde-se que por um caso de utilização dos funcionários públicos nas obras na sua quinta privada, o Tribunal da Relação do Porto condenou Torres, em Fevereiro passado, a dois anos e três meses de prisão, suspensos por quatro anos, pelo crime de abuso de poder.
Em três visitas ao Marco, entre 28 de Novembro e 11 de Dezembro de 2003, os inspectores da PJ detectaram os movimentos das obras e tiraram fotografias aos trabalhadores. Na última visita chegaram a ver que era o próprio autarca, Avelino Ferreira Torres, quem orientava as obras. Aos indícios deste processo remetido para o MP do Marco, junta-se uma conversa telefónica de Sanhudo com um amigo, segundo a qual estava ali uma "obra de luxo", tendo o autarca "desviado" areia, tijolo, mão-de-obra e a cobertura.
A derradeira certidão é relativa a alegadas influências sobre o árbitro de um jogo dos juniores do FC Marco com o Paços de Ferreira, por intermédio de Sanhudo. Está no MP de Paços de Ferreira."
É este o estado da nossa Justiça: um processo, várias acusações e nenhum condenado!
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