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Dos 60 aos 72


O tempo vai passando e o mundo à nossa volta vai mudando. As expetativas profissionais e pessoais vão aumentando, tendo mais sonhos e desejo de conquistar o nosso mundo. No entretanto, a balança é algo que não é das coisas mais imprescindíveis quando se arrenda uma casa e se mobila a mesma. Há tanta coisa para comprar e com tão pouco dinheiro, a labuta continua e o tempo escasseia. Depois de algum tempo numa nova caminhada, a casa mais composta, e numa ida relaxada a um supermercado a balança simples e barata surgiu perante os meus olhos, ao que o meu cérebro respondeu “sim, compra que já nem sabes quanto suportam os teus pés!” E lá a levei.
Experimentei mal cheguei a casa e conclui que tinha aumentado de peso, 4 a 5 kg, não sabia ao certo de há tanto tempo que não fazia as contas. Resolvi que ia fazer dieta mas como o fazer se no meu trabalho havia o hábito de se comer um pão ou um croissant com queijo a meio da manhã… e eu que nem sou apreciadora de pão ou croissant tinha embarcado no hábito e não sabia como sair sem dar nas vistas ou ser criticada mesmo estando a trabalhar há tão pouco tempo. Poucas semanas depois, e apões ter concluído que uma das minhas camisolas favoritas me ficava apertada, resolvi acabar com aquele hábito terrível. Custou-me, sentir o cheiro do croissant quentinho ou do pão com queijo derretido, e eu a comer um iogurte natural que mal matava a fome a um estômago habituado a mais substância. Mas foi! E na mesma onda, arranjei por acaso uma companheira para ir caminhar à beira-mar 2 ou 3 vezes por semana, e que bem que sabia. Julgo que emagreci 1 ou 2 quilos no máximo mas andava bem mais relaxada e sentia-me mais magra, apesar do sentir ao estar ir uma grande diferença e que no meu caso já se notava. Começou o verão e muita roupa ficou de lado porque me ficava apertada.
O tempo foi passando, inscrevi-me duas vezes num ginásio sem resultados uma vez que a minha resistência física é terrível (correu 1 quilómetro já é uma vitória e o coração parece querer saltar do peito no final) e a resistência e força de vontade emocionais também não estavam nos melhores níveis. Pelo caminho arranjei um segundo trabalho que me ocupava a maioria das noites pelo que a ginástica ou os passeios à noite na praia ficaram completamente fora de questão. De vez em quando ouvia os outros dizerem que estava mais gordinha e mais bonitinha (já o dita a gíria popular, “gordura é formosura”, o que é uma bela de uma treta nos dias atuais), e apesar de não concordar que estava melhor também não fazia nada para emagrecer.

E não sou a típica pessoa que não gosta de vegetais. Pelo contrário! Adoro vegetais. Crus, salteados, assados, cozidos, de várias formas e feitios, desde que no final me sinta satisfeita e com força. Não sou gulosa, os bolos e tudo o que tenha doces dispenso com imensa facilidade, o que julgo ser uma vantagem. Mas tenho a tensão baixa, muito baixa, tenho muitas vezes tonturas que me fazem ir logo comer um rebuçado ou um iogurte (ainda) com um pacote de açúcar. A sala onde trabalho não ajuda muito uma vez que é muito fechada e quente, baixando logo a tensão para valores terríveis, fazendo-me ter medo de me sentir mal e já tendo sentido mesmo mal amiúde. No meio de tudo isto tinha um hábito que começou aos 17 e terminou aos 33 anos depois da vida me pregar uma rasteira. Algo que adorava, que me dava o silêncio que tanto admiro e que me dava momentos de só eu com ele. Fazia-me lembrar o meu avô e sentia-o quando o tinha no dedo a fumegar e o inalava. Porque o meu avô além de outras coisas, era um fumador inveterado. Já não me lembro de ele fumar mas sei e ele contou-me peripécias de fumar quando era emigrante no Brasil, naquelas longas tardes de sol radiante e saboroso na varanda na quinta, com gatos e tremoços. Os meus pais não sabem, ou pelo menos, diretamente e também não pretendo que saibam porque sei que seria mais uma desilusão para eles.
Com tudo isto engordei, sobretudo depois de deixar o meu amigo de mais de uma década. Depois de terminar a minha relação com ele, passei a somar 70 kg. Com a compra da casa, o stress inerente, as refeições feitas à pressão, o casamento e longos dias de muitas preocupações, a lua de mel e de fel, contabilizei mais 2. Hoje peso 72 quilos, e umas gramas de certeza! Os hidratos de carbono à noite são escassos, tenho uma passadeira elétrica que ainda não me habituei a utilizar. Vejo-me há 10 anos atrás e nem acredito como foi possível esta transformação mas a realidade é que estou, seguramente, mais gorda 10 quilos. Tenho imensa roupa que já nem consigo enfiar, além de outras peças mais recentes que já me ficam apertadas. Sei que tenho de emagrecer até porque planeio entrar na melhor fase que uma mulher pode ter daqui a uns meses mas não sei como o fazer. O pior são as minhas quebras de pressão, parece que vou desfalecer o quanto antes, os medos e inseguranças que isso me dá.

Foi um desabafo num dia em que li o que a Catarina Beato, por razões diferentes das minhas mas similares em alguns aspetos, fez e como o fez e como se sentia quando perdeu imenso peso. Reli-me naquelas linhas. O meu ar desleixado – deixei de usar lentes por simples preguiça e abracei os óculos apesar de não me sentir bonita com eles -, a inércia em mudar e saber que caminhos tomar para mudar. O ter algumas restrições do que ele fez porque, felizmente, tenho um trabalho a full time e não tenho dois filhos para me tirarem toda a energia que acredito que exista dentro de mim. Talvez a passadeira. Um dia. Hoje, talvez..

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