Avançar para o conteúdo principal

(para sempre) Love you like in poetry

Blind Zero. Fizeram vinte anos no meu mês, a 29. 


Conheci a banda numa qualquer queima das
fitas de Coimbra, não sei exatamente o ano mas lembro-me tão bem daquela hora e
meia de concerto que é como se o estivesse a reviver agora. Talvez por isso
seja tão estranho pensar que já passaram tantos anos. Big Brother e o Recognize
ainda soam na minha cabeça como naquela noite. Por alguma razão que me escapa
agora, estava nas grades à espera dos James julgo eu, e fiquei irritada quando
me dizem que ainda viria uma banda oriunda do Porto. Nenhum dos meus amigos conhecia
muito bem, fazem-me acreditar que irei gostar porque era rock semelhante aos
Pearl Jam. Não acreditei e pensei seriamente em sair daquele lugar magnífico
mesmo em frente ao palco para não ter de levar com mais moche e música
desconhecida. Mas estava curiosa e ainda não totalmente esgotada dos encontrões
e lá me aguentei em cima das grades, felizmente!

No pouco silêncio da noite e numa
imensidão de escuridão entram alguns membros da banda, gadelhudos e com ar
rockeiro e grunge o que me agradou logo. Surge-me à frente um tal de Miguel
Guedes que mais tarde lutei por entrevistar numa primeira entrevista mais
profissional onde tentei, e consegui, colocar os amores de lado. O Miguel tinha
um olhar cativante, uma energia contagiante e colocou-me a cantar letras que
nunca tinha ouvido, aos saltos e com ganas de descer as grades e entrar no
moche mesmo atrás de mim. Começava a sorrir, a esquecer o encontro imediato
muitos minutos antes que me tinha deixado desnorteada como adolescente
apaixonada que era na época. O concerto foi mágico, talvez pela surpresa da
maravilhosa música, lembro-o como um dos melhores da minha vida! Até que...

Até que mesmo no final do concerto ele
explica que a música seguinte era sobre amor (fiquei irada, não queria mesmo
nada daquilo naquela noite, e muito menos naquele momento em que dentro de mim
apenas residia a música deles e nada mais) e ditou que "por vezes é
preciso olhar para os lados e não apenas para a frente" ou algo muito
semelhante (o que ecoou no meu cérebro como algo demasiado ensurdecedor).
Aborrecida com uma banda de rock se revelar tão picuinhas com aquelas tretas do
amor, olho desvairada para o lado e lá estava ele a olhar para mim com aquele
olhar ao qual não consegui impedir de corresponder. E dois mundos se uniram. A
música começava com o Miguel e uma viola e ficamos durante a música a olhar ora
para o palco ora para um para o outro, como se soubéssemos quando devíamos
olhar para a frente ou para o lado, de forma a que os nossos olhares se
tocassem pelo menos naquele momento mágico. Não sei o que ele pensava mas
fiquei completamente estarrecida quando o Miguel cantou no meio da letra
"Love you like in poetry" por finalmente saber como o amava. Que bela
descrição! Um amor que surgiu de um olhar duradouro que parecia não ter fim,
como nos filmes, nos romances, na poesia, como nunca imaginei que me fosse
acontecer um dia. E através de uma letra, de uma música tudo tinha ficado
explicado. O sentimento apesar de adormecido, hoje continua.

E durante estes anos sempre que a minha
"música favorita" toca num qualquer concerto as lágrimas surgem, a
angústia, a saudade de amar e ser amada assim, simplesmente como na poesia. Não
é difícil. Foram os Blind Zero que me fizeram perceber como amava e como amarei
aquele humano até ao resto dos meus dias. E em todos os concertos que virão
nestes próximos e longos anos, e sempre que tocarem A música irá acontecer o
mesmo e irei procurar exatamente a mesma pessoa. E talvez, num futuro, irei
encontrá-lo novamente durante um concerto de Blind Zero, como tantas vezes
sucedeu em Coimbra, sempre que os Blind Zero cantavam a música que nos
explicava, como se o amor tivesse justificação. Só naquela música. 

E como alguns grandes amores o nosso não
deu certo talvez porque a poesia traz tragédia e dor carregada em si. Ou talvez
porque estamos destinados a fazer felizes outros, depois de termos descoberto
de que cor é feito o amor puro. Obrigado Blind Zero por estes 20 anos da melhor
música. E que venham mais 20 e mais 20 e mais 20. E mais amores como na poesia!
Não é pedir muito :) 



E a música toca mais ou menos assim
(estava lá mas não o encontrei)...







Comentários

Mensagens populares deste blogue

Jornalistas na Guerra

Muito se tem falado das pessoas que saem (ou fogem) do Líbano, mas pouco se fala dos que vão para lá trabalhar. Porque alguém tem de estar no terreno, para contar aos ausentes, o que se passa. Profissionais, uns mais que outros, mas todos louvados pela coragem e sangue-frio que é necessário num cenário de guerra. Julgo que é o limite da carreira de qualquer jornalista, fotógrafo, cameramen.. não há nada mais dificil! Se se conseguir transpor este obstáculo, é possível fazer tudo! Em Setembro de 2000, na Convenção da RTNDA, Christiane Amanpour fez uma brilhante e emotiva defesa do jornalismo. Desse discurso retiro estes parágrafos, para que alguém os entenda, se souber entendê-los: «Disse uma vez a um entrevistador que nunca casaria. E que nunca teria filhos. Quando se tem um filho, disse, temos, pelo menos, a responsabilidade de ficarmos vivos. Isso foi há sete anos. Entretanto, estive casada dois anos e tenho um filho com cinco meses. Mas uma coisa estranha aconteceu, uma coisa que eu

Love U like in poetry...

«You could swim... like dolphins can swim We can be heroes... just for one day We're nothing, and nothing will help us But we could be safer, just for one day And we kissed as though nothing could fall ... just for one day...!» P.S1.: Perfeito o concerto dos Blind Zero de ontem à noite na Fnac. Se não fossem os "idiotas" que ocupavam o já de si exíguo espaço, apenas para ver nem eles sabiam o quê, beber umas cervejolas e ter atitudes de "portuga à zé camarinha", tudo teria sido mais e mais, ultra e super perfeito. Com uns encontrões e olhares demolidores consegui chegar à frente e aí entendi, que não era a que estava a gostar mais daquele concerto... eram os próprios Blind Zero! É por cada concerto ser um divertimento constante, pelo amor à música e ao grupo que, 13 anos depois, ainda andam por estas andanças. Apesar de, como disse o Miguel, terem a noção de que muitos os consideram como uma banda doentia, até os próprios pais! Mas acredito que cada um tem uma n

O sonho europeu!

Apesar de não termos vencido o jogo, o sonho continua... estava á espera que o resultado final fosse 0-1 ou 0-2, vantagem para o Barcelona! Mas pelos vistos, o Benfica até que joga bem (lol) ou então é o Barcelona que não joga assim tão bem ;) O que é facto é que não me sentia assim tão stressada desde a final da Taça de Portugal da época passada (mas isso também era por ter uma "certa" sportinguista ao meu lado aos berros... anyway!). Jogaram bem, defenderam bem (tirando algumas falhas do guarda-redes.. ) e o Benfica mostrou que está ao nível das melhores equipas da Europa, se nao do mundo. E, principalmente o Sr. Koeman não conseguiu agoirar (ele disse numa entrevista em Espanha que o Benfica não tinha qualquer oportunidade de vencer o Barcelona... é normalissimo um treinador dizer uma coisa destas antes de um jogo!!!) Só quero que fique uma questao no ar: O que é que o Beto ainda anda a fazer no Benfica??? Alguma alma caridosa que me responda por favor... isto tem me trans