Quando nasci haviam dois canais de televisão, a RTP1 e a RTP2. Como durante a minha infância os meus vícios resumiam-se a livros de todos os tamanhos e televisão, sem qualificar o programa que estava a ser exibido, posso afirmar veementemente que tenho alguma paixão por estes dois canais. A RTP2 exibia os bailados e os campeonatos de ginástica que adorava e me alimentavam o sonho de ser bailarina ou ginasta no futuro, tentava imitar os acrobatas em frente ao ecrã mágico durante horas, e memórias destas, que incluem sonhos. não são fáceis de esquecer. Cresci, ganhei mais dois canais de televisão para absorver, mais livros e outros interesses. Deixei de saber, com rigor, os programas de cada canal e os horários de emissão dos mesmos.
Ouço e leio agora, depois de ter estado longe do mundo real alguns dias, que a RTP2 deixará de ser pública. Parece que está para venda numa espécie de leilão, ou aluguer, ou sei lá o qué para uma empresa angolana com sede num outro local e que já possui o SOL. Mas supostamente, o que a minha mente de criança entende é que um canal que cresceu comigo e me ajudou a crescer, irá deixar de ter a sua identidade. E consequentemente, acontecerá o mesmo ao outro, à RTP1! Julgo que não haverão inocentes neste aspecto. Os sentimentos multiplicam-se e são confusos. Se por um lado estou revoltada por nós (os portugueses, no geral julgo, visto que todos pagamos a taxazinha para termos um serviço público) deixarmos de ter algo crucial para o país, para a credibilidade da informação e dos programas, para a sustentabilidade de alguns atores e atrizes que dão cara a muitos programas emitidos pela estaçao pública, já para não falar nos jornalistas e demais profissionais que por lá trabalham, sinto-me estupidificada por esta letargia geral. Há petições, comentários, revoltas escritas semelhantes a esta, mas não vejo um político ou opinion maker ou "alguém" que seja a insurgir-se contra esta medida que também nos está a tirar a liberdade de expressão. Acabo sempre por pensar nas consequências destas medidas tão simbolicamente semelhantes (são os ataques a programas da Antena 1, pressões sobre jornalistas do Público, e tantos mais).
Não acredito que não apareça uma ou várias empresas que tomem conta da RTP2. Sim, irão surgir e já se falam de nomes, mas assim deixaremos de ter uma televisão minimamente imparcial e que nos sirva a nós, ao público, ao povo. Surgirá um canal que irá responder às necessidades, de toda a espécie, dos que compraram os direitos de emissão do mesmo. E voltamos ao mesmo: onde fica a imparcialidade e a verdade inerentes ao trabalho de um jornalista? E de um canal que é feito de documentários, e séries e programas de grande interesse público, de quem se interessa por se cultivar um pouco mais na realidade que por aí anda?
António Borges, convém dizer que já foi Diretor do Departamento Europeu do FMI (gosto bastante desta "relação"), ficou responsável pelas privatizações e portanto ditou que se deverá encerrar a RTP2 e concessionar a RTP1 a entidades privadas. Não esquecer que este senhor também já aconselhou que se deveriam baixar os salários para sairmos da crise (não o dele mas sim o dos outros, aqueles que já contam mensalmente ou semanalmente os tostões). O CDS-PP já ditou que não concorda com esta medida e que esta informação não deveria ter sido revelada por António Borges mas sim por Miguel Relvas, ministro adjunto dos assuntos parlamentares, e responsável pela comunicação social (que convenientemente é uma pessoa ligada a um tipo de quem já ninguem fala, mas que era do SIS e forneceu informação confidencial ao responsável pela comunicação social... depois talvez para abafar isto, veio ao de cima a pouca vergonha da licenciatura de alguém que achava que seria melhor por ser licenciada e assim poder exigir que o tratassem por Dr.). Li o que o CDS-PP acha do caso, e parece que isto não importa a mais ninguém.
Somos um povo pacífico, sempre o fomos, talvez não valha a pena tentar espicaçar os vizinhos, os amigos, os familiares a agirem porque não nos está no sangue. Apenas alguns estão convictos e com coragem para mudar o panorama das coisas. Mas são pouco e não saem que caminho seguir, ou talvez nem acreditem que exista um caminho a seguir. Já nem eu acredito que exista uma solução, um caminho, algo no qual possamos acreditar. Um país unido, pessoas com interesses em comum que passam por construir um país melhor, reformar o que é necessário e lutar por um país com mais equidade e justiça. Apenas isso! Uma realidade que devia ser mostrada nos canais públicos que todos os países europeus possuem, que a nossa Constituição nos garante e que todos nós pagamos mensalmente.
A realidade, cada vez mais triste, mostra-nos um país de emigrantes. Todos querem ir para fora deste país, pelos salários mais elevados e uma vida mais sustentável mas também para não terem de "aturar" estas notícias que deviam, automaticamente, de provocar uma revolta geral na população. Do que estamos à espera? De voltar ao tempo em que a verdade e a informação eram bens proibidos? Acho que já lá estamos e ainda nem sabemos disso.
Vou lutar pela minha, e a nossa, RTP2 que me ajudou no meu sonho de ser bailarina, e assinar as petições, protestar aqui e ali pela preservação de um canal que pago mensalmente na minha conta da eletricidade. Pelo sonho que me ajudou a construir e pode ajudar outros. Porque sem sonhos não somos nada, e ainda sonho viver num país com liberdade de expressão!
P.S.: Vale a pena ler este texto da Estrela Serrano que, pelos vistos, provocou alguma "comichão": http://vaievem.wordpress.com/2012/08/24/rtp-antonio-borges-foi-o-homem-do-balao/
Ouço e leio agora, depois de ter estado longe do mundo real alguns dias, que a RTP2 deixará de ser pública. Parece que está para venda numa espécie de leilão, ou aluguer, ou sei lá o qué para uma empresa angolana com sede num outro local e que já possui o SOL. Mas supostamente, o que a minha mente de criança entende é que um canal que cresceu comigo e me ajudou a crescer, irá deixar de ter a sua identidade. E consequentemente, acontecerá o mesmo ao outro, à RTP1! Julgo que não haverão inocentes neste aspecto. Os sentimentos multiplicam-se e são confusos. Se por um lado estou revoltada por nós (os portugueses, no geral julgo, visto que todos pagamos a taxazinha para termos um serviço público) deixarmos de ter algo crucial para o país, para a credibilidade da informação e dos programas, para a sustentabilidade de alguns atores e atrizes que dão cara a muitos programas emitidos pela estaçao pública, já para não falar nos jornalistas e demais profissionais que por lá trabalham, sinto-me estupidificada por esta letargia geral. Há petições, comentários, revoltas escritas semelhantes a esta, mas não vejo um político ou opinion maker ou "alguém" que seja a insurgir-se contra esta medida que também nos está a tirar a liberdade de expressão. Acabo sempre por pensar nas consequências destas medidas tão simbolicamente semelhantes (são os ataques a programas da Antena 1, pressões sobre jornalistas do Público, e tantos mais).
Não acredito que não apareça uma ou várias empresas que tomem conta da RTP2. Sim, irão surgir e já se falam de nomes, mas assim deixaremos de ter uma televisão minimamente imparcial e que nos sirva a nós, ao público, ao povo. Surgirá um canal que irá responder às necessidades, de toda a espécie, dos que compraram os direitos de emissão do mesmo. E voltamos ao mesmo: onde fica a imparcialidade e a verdade inerentes ao trabalho de um jornalista? E de um canal que é feito de documentários, e séries e programas de grande interesse público, de quem se interessa por se cultivar um pouco mais na realidade que por aí anda?
António Borges, convém dizer que já foi Diretor do Departamento Europeu do FMI (gosto bastante desta "relação"), ficou responsável pelas privatizações e portanto ditou que se deverá encerrar a RTP2 e concessionar a RTP1 a entidades privadas. Não esquecer que este senhor também já aconselhou que se deveriam baixar os salários para sairmos da crise (não o dele mas sim o dos outros, aqueles que já contam mensalmente ou semanalmente os tostões). O CDS-PP já ditou que não concorda com esta medida e que esta informação não deveria ter sido revelada por António Borges mas sim por Miguel Relvas, ministro adjunto dos assuntos parlamentares, e responsável pela comunicação social (que convenientemente é uma pessoa ligada a um tipo de quem já ninguem fala, mas que era do SIS e forneceu informação confidencial ao responsável pela comunicação social... depois talvez para abafar isto, veio ao de cima a pouca vergonha da licenciatura de alguém que achava que seria melhor por ser licenciada e assim poder exigir que o tratassem por Dr.). Li o que o CDS-PP acha do caso, e parece que isto não importa a mais ninguém.
Somos um povo pacífico, sempre o fomos, talvez não valha a pena tentar espicaçar os vizinhos, os amigos, os familiares a agirem porque não nos está no sangue. Apenas alguns estão convictos e com coragem para mudar o panorama das coisas. Mas são pouco e não saem que caminho seguir, ou talvez nem acreditem que exista um caminho a seguir. Já nem eu acredito que exista uma solução, um caminho, algo no qual possamos acreditar. Um país unido, pessoas com interesses em comum que passam por construir um país melhor, reformar o que é necessário e lutar por um país com mais equidade e justiça. Apenas isso! Uma realidade que devia ser mostrada nos canais públicos que todos os países europeus possuem, que a nossa Constituição nos garante e que todos nós pagamos mensalmente.
A realidade, cada vez mais triste, mostra-nos um país de emigrantes. Todos querem ir para fora deste país, pelos salários mais elevados e uma vida mais sustentável mas também para não terem de "aturar" estas notícias que deviam, automaticamente, de provocar uma revolta geral na população. Do que estamos à espera? De voltar ao tempo em que a verdade e a informação eram bens proibidos? Acho que já lá estamos e ainda nem sabemos disso.
Vou lutar pela minha, e a nossa, RTP2 que me ajudou no meu sonho de ser bailarina, e assinar as petições, protestar aqui e ali pela preservação de um canal que pago mensalmente na minha conta da eletricidade. Pelo sonho que me ajudou a construir e pode ajudar outros. Porque sem sonhos não somos nada, e ainda sonho viver num país com liberdade de expressão!
P.S.: Vale a pena ler este texto da Estrela Serrano que, pelos vistos, provocou alguma "comichão": http://vaievem.wordpress.com/2012/08/24/rtp-antonio-borges-foi-o-homem-do-balao/
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