Olá,
Para quem ainda não me conhece sou a Maia. A minha dona já me explicou muitas vezes a razão do meu nome, por vezes torna-se mesmo cansativa mas lá a vou ouvindo. Parece que Maia é o apelido de um senhor de quem ela gosta muito e o meu nome é uma espécie de homenagem a esse senhor, talvez para se lembrar dele. Até já me mostrou uma imagem dele mas não entendo qual a semelhança comigo. Tenho de confessar, causa-me um pouco de confusão ter um nome masculino porque sou uma gatinha. Tenho uma amiga aqui em casa com nome de gatinha, é a Luna, um dia apresento-vos a Luna. Um dia vou ter de perguntar à minha dona porque tenho um nome de um senhor quando sou uma gatinha. Coitada, se calhar nunca pensou nisso.
Mas queria contar-vos uma coisa fantástica que me aconteceu: sou mãe de 6 gatinhos e é um sentimento maravilhoso. Tudo começou na madrugada de quinta-feira. Estive a fazer companhia à minha dona no quarto enquanto ela lia um livro e, de repente deram-me umas picadas fores na barriguinha, não fazia ideia do que era aquilo. Assustei-me um pouco e fui-me refugiar na cama perto da minha dona porque ela podia ter a solução para aquilo. Não me queixei, tentei aguentar até ao fim, mas aquilo começava a ficar intolerável. Entretanto ela terminou a leitura daquele dia e apagou a luz. Permaneci no mesmo local porque me sentia mais protegida mas as dores não pararam. Lá ia aguentando porque não queria acordar a minha dona, parece que o Pataco (não gosto muito de cães, confesso, mas sei que ela o adora e gosta muito de falar dele) está doente e ela andava bastante preocupada com ele. Não queria ser mais uma preocupação para ela. Mas chegou a uma altura em que veio uma dor mesmo aguda como se me tivessem a pisar com muita força a barriguinha e tive de miar, lancei um miar pequeno mas agudo, e a minha dona acordou e acendeu a luz surpreendida com o meu miar. Não a queria mesmo acordar mas não conseguia aguentar aquelador. E de repente, a minha dona começou a sorrir e a dar-me beijinhos e a dizer que ia ser mamã.
Mamã? Já nem ligava às dores, só pensava no que raio estava ela a falar. Mamã? O que era ser mamã? Já me tinha apercebido que a minha barriguita estava bem mais crescida e que havia lá qualquer coisa a mexer dentro, já para não falar da minha fome que parecia não ter fim e nas minhas mamitas que estavam mais duras e parecia que tinham qualquer coisa lá dentro. Mas ainda só tenho um ano, ainda tenho tanto para aprender, e não entendia que transformações eram aquelas. Agora, e pensando bem, já tinha ouvido a minha dona a falar que ia ter filhotes e que ia ser muito bonito. Quando falava que ia ter filhotes também falava do Minuche, o gatinho dos papás da minha dona que é muito simpático e bonito, mas não entendi a ligação daquilo tudo.
Enquanto ainda estava a pensar no significado da palavra Mamã senti cair qualquer coisa do meu rabinho, fui indagar o que era e tudo ficou claro para mim. Ia ter gatinhos bebés, isso era o significado de ser mamã, ia ter de cuidar deles e eles eram meus, do meu sangue, estavam a sair de dentro de mim, seriam sempre os meus filhos. Comecei logo a lamber o meu primeiro filhote e parece que ainda estou a ouvir o primeiro miar dele, foi mágico e nunca vou esquecer aquele momento. Ainda estava a recuperar do primeiro, eis que me surge outra pontada na barriguinha e volto a miar com aquela dor que saía do meu mais profundo, e nasce o meu segundo filhote. Agora já estava a perceber como tudo funcionava: antes deles sairem de dentro da minha barriguinha, sentia uma pontada de dor e depois tinha de os lamber rapidamente para eles acordarem logo, começarem a respirar e a viver por eles, sem a minha ajuda, e tinha de os limpar e secar para se sentirem quentinhos e confortáveis.
Era como se lhes estivesse a dar novamente vida. Primeiro cresceram dentro de mim, e agora estava a dar-lhes as boas vindas e a ajudá-los no seu primeiro passo na vida fora da minha barriguinha. Foi tão bom ouvir o primeiro miau de todos eles, tão bom limpá-los para o início de uma nova jornada. A minha dona tinha razão, foi mágico, e sinto-me tão feliz que não quero mais nada na minha vida de gatinha do que cuidar dos meus bebés.
Ao quarto bebé, a minha dona disse que já estava muito cansada e que tinha mesmo de dormir e ouvi a voz dela a dizer que eu era linda e que estava a fazer um bom trabalho. Ainda me foi buscar água e comida, mas nem sentia sede ou fome de tão eufórica que estava com tudo. Não podia acreditar que estavam a nascer bebés meus, nascidos de mim, do meu ser. E, o que tem mais piada é que no início não sabia o que fazer mas o meu instinto deu-me todas as indicações do que era necessário, como se tivesse uma voz a guiar todos os meus passos. E, não me posso esquecer que tinha sempre a minha dona ao meu lado para me ajudar a não pisar nenhum bebé. Apesar de estar mais calma, ainda sentia o meu coração a pular de tanta ansiedade porque não queria que nada corresse mal. A minha dona fez-me uma caminha mesmo ao lado dela na cama para que pudesse ter espaço para ter aí os bebes, e se fosse preciso alguma coisa bastava-me miar e ela acordava. A Luna também esteve sempre presente, ainda que desconfiada, acho que ela inicialmente não estava a perceber o que se estava a passar e assustou-se um pouco com os meus miaus porque não sabia como ajudar. Mas esteve a noite toda acordada no caso de eu precisar de ajuda.
No dia seguinte, a minha dona acordou e começou a contar os bebés. Estava sempre a sorrir, acho que estava tão feliz como eu. Primeiro disse 7, e depois disse que devia ter contado mal, e começou a ver um por um se estavam todos bem e de repente disse 6, voltou atrás e disse 7. E berrou: "Maia, és tão pequenina e tiveste sete gatos? Como é possível?" Não entendi se aquilo era uma reprimenda ou se estava feliz pelo feito. De repente o telefone toca, e só ouvia a minha dona "já acordei sim, não adormeci... não imaginas quantos gatos é que ela teve! 7 gatos. Que loucura e há três branquinhos como a mãe da Maia, um preto, dois iguais ao Minuche e um branco e com manchas amarelas." Ela estava toda feliz e fiquei feliz por ela, afinal se não fosse a minha dona ainda era uma gatinha abandonada e não sei onde estaria agora.
Lembrei-me naquele momento de quando fugi de casa dos pais dela, assustada com o barulho (os humanos quando se juntam parecem loucos a falar), e o Minuche veio ter comigo para me fazer companhia. Nesse dia, a minha dona não me conseguiu encontrar porque eu estava muito assustada e não sabia o que fazer e tive medo de ir ter com ela. Estive uma semana sem ela, às vezes via a mãe ou o pai dela a irem dar-me comida à arrecadação onde estava, e dias depois chegou a minha dona a chamar por mim. Senti que ela estava desesperada porque sentou-se na arrecadação e desatou a chorar, ligou o telefone e disse que não me encontrava e que eu não gostava dela e por isso é que tinha desaparecido. Estava mesmo desesperada e foi aí que apareci e voltei de novo para a minha casinha.
Depois de falar ao telefone, a minha dona voltou a dar-me água e reparou que o ninho que me tinha arranjado estava molhado, tentei limpar tudinho mas não consegui secar. Arranjou-me um ninho novo para mim e os meus bebés e depois começou a correr de um lado para o outro de forma desenfreada, com a toalha de banho, vestiu-se, calçou-se, deixou cair os óculos no chão. Parecia tolinha. Eu não queria largar os meus bebés e fiquei sossegada para não a aborrecer. A Luna estava sempre em cima da cama a tomar conta de mim, a olhar para mim e para os meus bebés. A minha dona veio-se despedir e disse para me portar bem. Imaginei que só voltasse no final do dia como é habitual, mas a Luna estava ali comigo. Não estava sozinha.
Mas um dos meus bebés nasceu fraquinho, tentei dar-lhe o máximo de atenção mas são tantos que não consegui e infelizmente ele acabou por ficar frio e deixei-o num canto no ninho porque os manos dele estavam com frio quando ele estava por perto. Ele arrefecia-os. Não o ouvia miar e ele não queria mamar, desconfiei que ele tivesse morrido e quando a minha dona chegou a casa confirmou. Ficou com muita pena, vi logo nos olhos dela, mas disse-me que talvez fosse melhor assim porque eram muitos bebés para eu tomar conta sozinha. Deu-mo a cheirar, dei-lhe uma lambidela, não sei o que ela fez com ele mas nunca mais o vi. Depois apareceu o meu dono, mais à noite, e ele ficou completamente apaixonado pelos meus bebés, vi bem pela expressão dele. E andou a filmá-los e a fazer-lhe festinhas, quase não me ligava nenhuma, e confesso que fiquei com ciúmes porque gosto muito de brincar com ele. No início, quando vim para esta casa, ele não me dava muita atenção, estava sempre a chamar alto o meu nome quando fazia alguma asneira, e não brincava comigo mas agora é diferente. Está sempre a brincar comigo e foi muito querido com os meus bebés.
Nem sempre estava no ninho porque os meus bebés são uns esfomeados e estão sempre a tentar mamar e no primeiro dia doia um bocadinho quando eles mamavam. Agora já não doi tanto mas eles são seis e se tiverem todos a mamar canso-me muito depressa. Acho que ainda não estou habitada a ser mamã, gosto tanto do nome e soa-me tão bem que me apetece repetir a cada segundo "sou mamã, sou mamã". Agora apetecia-me colocar-lhes nomes a todos eles mas não sei se a minha dona ia achar piada, há coisas que ela é que manda, e também queria que a Luna me desse ideias para nomes. Mas a Luna quer que esteja sempre no ninho com eles. Acreditam que ela me bufou na noite de quinta para sexta-feira porque sai um bocadinho do ninho para descansar? Quer que esteja sempre lá com eles mas fico de rastos. Felizmente, a minha dona arranjou-me um ninho maior e dá para eles estarem a dormir enroscados uns nos outros para não terem frio e eu estar na outra ponta a descansar. Assim a Luna não fica a pensar que não lhes dou atenção.
Sinto-me uma gata muito feliz e acho que sou uma sortuda. Tenho 6 filhotes lindos, meus e de mais ninguém, estou a dar-lhes papinha que sai do meu corpo e eles estão a crescer alimentados por uma parte de mim. Os meus donos dão-me tudo o que preciso e ainda tenho uma amiga sempre a olhar por mim e pelos meus filhotes, a Luna. Ser mamã é, definitivamente, a melhor coisa do mundo.
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