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Juntar as pedras e construir um muro...

Dizem-me que há foguetes e cantares por todo o país porque hoje o calendário dita que é 25 de Abril. E depois? Essa é a minha questão. Até eu, que sempre fui uma revoltada por tudo e por nada, já não tenho forças para festejar esta data porque parece que foi tudo em vão. Pergunto e volto a perguntar: o que mudou? O que ficou melhor? E talvez com um desespero, semelhante ou não ao Otelo, dito que as pessoas não souberam aproveitar o que lhes foi dado. Penso no que sentiria o meu capitão, Salgueiro Maia, se ainda hoje estivesse vivo, e acredito que sentiria a mesma repulsa que eu. Pelo estado do país, pela letargia, pelo modo de viver de uma grande percentagem da população, enfim, por quase tudo.


Terminámos com uma guerra que estava a matar irmãos portugueses e a destruir colónias que tinham o direito de ter a sua vidinha. Onde andam esses antigos combatentes? Quantos, hoje, continuam com pesadelos e vidas feridas de combates onde nunca sonharam estar? E, nós, sociedade, quantas vezes nos lembramos deles? Hoje estive com um, com a vida a meio gás por outras razões, e pensei que ele nunca gostou de falar do assunto e do que não deverá ainda sofrer para não querer falar. E gostava de uma resposta: valeu a pena? Tenho a certeza do não que ouviria! Convidei-o a ir ao Porto um destes dias.


Liberdade. Já não sei o significado. Porque a mesma implica muitas outras coisas. Porque o que o Salgueiro e outros advogaram há uns anos atrés implicava outras coisas, esquecidas. A solidariedade, a coesão social, a luta por um país melhor. Uma luta de todos e para usufruto de todos. E olho à minha volta e não consigo visualizar nada disso. Ouço o Zeca, leio reportagens feitas no dia "mágico" e nos dias póstumos e sinto-me cansada, como até há pouco tempo não me sentia. Muito cansada deste país, de algumas pessoas que não merecem habitá-lo pelo pouco amor que lhe têm, pela falta de luta. Pela falta de liberdade, solidariedade, justiça, companheirismo, amor e amizade. A revolução deveria ter sido feita nas nossas cabeças, e não apenas aparentemente no sistema partidário. Estou cansada, mesmo muito. Talvez seja apenas de hoje, ou de amanhã e algo acontece que me transforma novamente. Mas desta vez não quero cruzar tanto os braços, e não vou fazê-lo.

Mas não escondo: estou muito cansada e quero lutar para mudar tudo isto. Mas não consigo fazê-lo sozinha. Alguém me acompanha? Não tenho medo, apenas estou sem fôlego para mais uma luta sozinha, e o meu pai não se cansa de me chamar à realidade e ditar que não posso mudar o mundo sozinha. Devo ter nascido inconformada já!
Feliz dia 25 de Abril! (é feriado, pelo menos por isso muitos ficarão felizes...)

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