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Em Itália a realidade é outra. Bem mais grave e sangrenta. E bem mais avançada e assustadora, como fiz questão de pesquisar na Internet depois de ler uma reportagem publicada na revista Visão (n.º 872). Há figuras com cargos públicos que renegam o Holocausto e defendem Hitler como um grande estadista. Berlusconi venceu as últimas eleições apoiado por grupos fascistas, neonazis, nazis, pós-fascistas, e sei lá mais o qué, e que não param de crescer por todo o país. De 2005 a 2008 registaram-se 262 casos de violência fascista contra jovens dos centros sociais, imigrantes, homossexuais e ciganos. E mais de 100 actos de vandalismo contra sedes de partidos (sobretudo comunistas), lápides e monumentos de resistentes ao fascismo de outrora. O túmulo de Mussolini é visitado anualmente por mais de 600 pessoas.
Gianno Alemanno venceu as municipais de Roma, e fez a saudação romana. Umas semanas mais tarde, um designer gráfico foi assassinado por um grupo de jovens fascistas em Verona, a cidade de Romeu e Julieta, pela recusa de um cigarro. Em Verona governa Flavio Tosi que, em 2007, expulsou os ciganos da cidade porque "perturbavam a beleza do centro histórico". Giancardo Gentilini, na Padânia, impôs uma tolerância zero: em três meses desapareceram os arrumadores e mendigos, e num ano expulsou os falsos vendedores ambulantes, prostitutas e ciganos. Tudo apenas, segundo defende, porque aplicou os ensinamentos do fascismo e do evangelho. Houve um desmantelamento de barracas sem alternativa de realojamento, maus tratos e humilhações policiais, falsas acusações e detenções ilegais, condenações judiciais sem provas. Uma perseguição sistemática! Para expulsar os ciganos, romenos, e tudo o que seja considerado diferente. A 5 de Agosto o Governo decretou a obrigatoriedade de usar placas identificativas com a palavra "rom". Uns tempos mais tarde, um casal de turistas homossexuais foi agredido por um grupo de jovens, em Nápoles, perante a indiferença total. Pouco depois, um grupo de homossexuais pediu asilo político no consulado espanhol. A Liga do Norte é a organização fascista mais conhecida e com mais poder, mas à volta dela florescem outras dezenas de grupos, quase centenas.
Outra legalização do Governo foram as patrulhas de vigilância - " a Justiça fazes tu"- garantindo poder à Liga do Norte e concretizando-lhe o sonho de ter uma polícia a controlar o território à sua maneira. O Governo, obviamente, para dar mais espaço e poder a estes grupos, retirou drasticamente os recursos das forças de segurança.
Contas feitas são 55 mil jovens e 65 grupos ultras de inspiração neonazi e neofascista. Mas há mais, muitos mais. São levados pela discriminação, xenofobia e racismo. O Governo de direita alia-se a estes grupos, que lhes garantem votos preciosos, serve-lhes de moderador, dá-lhes espaço, e assim legitima o racismo e o fascismo. Berlusconi defende os actos de Mussolini e os meios de comunicação não podem relatar a veracidade dos factos. E alguma opinião pública fica preocupada.
É angustiante. Está a acontecer em Itália, mas estas ideologias e pensamentos alastram-se rapidamente como a gripe, ainda para mais num clima de crise económica e política que estamos a viver. Em breve Portugal também terá mais força nestes meandros, e outros países europeus (alguns já dão sinais disso, como a França), e suponho que ninguém queira voltar para um Estado fascista, nazi ou o que lhe queiram chamar. Tenho medo de algum dia não poder escrever isto, como o faço agora, porque nesse dia a minha alma morrerá, angustiada e frustrada. E não sei se terei forças para combater tudo isto, esta falta de liberdade que parece vir ao nosso encontro sem compaixão. Mas não consigo ficar de olhos fechados a fingir que nada está a acontecer no mundo, e até mesmo no nosso país.
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