Uma criança recém-nascida, ainda com o cordão umbilical, foi encontrada embrulhada num casaco em Mirandela. Uma senhora encontrou-a e foi de imediato para a Maternidade mais perto, estando o bebé longe de perigo, apesar de ter entrado na unidade hospitalar com sinais de desidratação e fome. Eu não entendo como isto acontece hoje em dia. Eu, que defendo que quando não se têm condições económicas ou mesmo sociais, o melhor é não ter os filhos para que eles não se percam na vida com falhas de educação ou de presença dos pais. Eu que também não tive uma infância perfeita em termos de presença de pais, e por isso a adolescência rebelde o revelou, acredito que antes de se levar para a frente uma gravidez deve-se pensar muito bem. Racionalmente! Os prós e os contras!
Mas abandonar uma criança com horas de vida. Não compreendo. Nem os animais o fazem. A mãe da Luna, uma gata abandonada que vai deambulando entre a casa dos meus pais e as casas limítrofes, já teve imensos filhos e com o medo de alguém lhos tirar, esconde-os como quem esconde uma pedra preciosa. Nunca os conseguimos encontrar. Até que ela, quando sabe pelo instinto de gata, que eles já estão crescidos o suficiente para sobreviverem sem a mama dela, nos chama para nos mostrar as suas preciosidades. De uma vez, de tão assustada que estava que lhos tirassemos, passou muito tempo sem aparecer, de tal forma que quando apareceu apenas era pele e osso. Andava aos tombos, mas não queria aparecer para não irmos atrás dela e lhes descobrirmos os tesouros. É uma gata. Não fala, não teve educação racional como nós humanos, apenas instintiva, mas mesmo assim ama mais os filhos do que muitos dos humanos que por aí deambulam. Sabe quando já não consegue cuidar deles e pede-nos ajuda. Nunca os abandonou, com fome, desnutridos num canto qualquer da aldeia. Pelo contrário, um dos sinais que ela nos dá de que tem filhotes é quando a vemos pelos matagais à procura de um coelho ou de um rato para habituar os filhotes a comer algo que não seja o seu leite maternal. E é uma boa caçadora!
A Luna quando veio para as minhas mãos, já não queria leite, e por alguma razão seria. E a minha questão primordial, porque estes casos colocam-me imensas questões que nunca consigo responder, é: se calhar também deviamos fazer campanhas para as mães e os pais (sim, porque estes também têm a sua quota parte de responsabilidade) não abandonarem os filhos, e quando não os quiserem, indicarmos, fazermos uma lista de locais onde os podem colocar sem revelar a identidade e as razões do abandono. Seria melhor para todos nós, sobretudo para quem é abandonado e um dia saberá que o foi!
Como mulher é óbvio que, um dia destes, com alguém que o mereça, quero ter um filho. Mas quando tiver uma vida estável, dinheiro suficiente para lhe proporcionar uma infância e um crescimento saudável e normal. Ter tempo para ele, para passear com ele, mostrar-lhe o mundo, contar-lhe histórias intermináveis como alguém fez comigo quando era pequena e que tanta importância teve. Neste momento não posso, por questões monetárias, falta de tempo, entre outras razões. Mas não tenho problemas em dizer que, se por alguma razão engravidasse neste momento, não pensaria duas vezes naquilo que faria. Talvez por ser racional demais ou fria, chamem-lhe o que quiserem. Talvez por não ser uma gata que sabe que tem sempre alguém que arranja sitio para os seus filhotes. Um filho é a coisa mais preciosa que uma pessoa pode ter, e por isso não pode ser pensada apenas com um terço da razão ou um quarto do coração.
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