Um dia prometeram-me, pelo olhar, que nunca me iriam abandonar, fosse porque razão fosse. Disseram-me que era impossível haver qualquer tipo de chatice que nos impedisse de falar. Um dia disseram-me que me iriam salvar de qualquer doença, que seriam o meu médico de família, para além de amigo e chatinho.
Um dia prometeram-me não deixar de ir contra as minhas decisões, sabendo que elas não seriam as mais correctas, mas preferindo convencer-me do certo. Um dia prometeram-me que iriam ter sempre tempo para os meus devaneios, tivessemos 30 ou 40 anos, um ou seis filhos. Um dia disseram-me que eu era uma amiga especial, e apesar de tudo, no fundo, seria a única, e daí a importância que tinha. Um dia disseram-me que gostavam de mim, mesmo sendo chatinha e estando de mau humor uma vez por mês (e seria a única pessoa a perceber isso, quando entrava no carro e olhava para mim).
Um dia prometeram-me estas e muitas outras coisas. Um dia prometeram-me envelhecer, ir para os 30 ao meu lado, gozar comigo nas minhas piores andanças. Um dia prometeram-me virar sempre à direita directa a uma rua cheia de buracos porque encurtava o caminho. Um dia prometeram-me um café e deram-me um soco, que me levou ao chão e do qual tenho de me levantar um pouco mais, a cada dia que passa. E não é fácil.
Não é exactamente destas surpresas que aprecio. Não gosto de perder o que quer que seja, como qualquer um de nós, e muito menos pessoas de quem gosto e de quem fui tão amiga. Pela qual tive de fazer tanto, desprezar uns porque eles não gostavam de estar contigo, não estar com outros porque preferia estar contigo. Acordar as 6h da manhã para ir para um torneio contigo, dois dias consecutivos. Voltaria a fazê-lo porque eras o meu melhor amigo. Não havia, e não há, quem saiba mais de mim do que tu. Já não tem sentido contar certas coisas a quem quer que seja.
Há uns tempos ainda não acreditava na realidade, mas agora sei que já não há muito a fazer e aceito. Basta-me cruzar os braços. Nem sempre temos de lutar. Por vezes não nos vale de nada. Há dias em que acredito que a preserverança nos leva sempre a algum lado, outros há em que o optimismo não floresce, e já não acreditamos que as pessoas gostem um milimetro que seja de nós, depois de tanto tempo passado. Hoje não acredito, e começo a aceitar, e acho que este já é um bom começo. Continuo a ter saudades, a não ir aos "nossos sitios" mas hoje, mesmo pessimista, acredito que as saudades também vão terminar um dia. Como tudo na vida, pelos vistos, por mais juras que nos façam.
O meu avô explicou-me a morte, quando ainda era uma autêntica criança. Fez-me acreditar que quando alguém morre, apenas morre quando nos esquecemos dela, quando nos esquecemos de todas as memórias que temos dessa pessoa. E também me fez acreditar que, quando quisesse falar com esse alguém já falecido, bastava deixar anoitecer, escolher uma estrela e falar com ela. Aí estaria a pessoa de quem nós sentimos tantas saudades. E acreditei nisto durante muito tempo!
Mas infelizmente, ele morreu cedo demais para me explicar como se esquece uma pessoa que não morreu...
P.S.: Eu sei que muitos, ao lerem isto, vão entender o que ainda não tinham entendido mas como já devem ter percebido, não respondo a perguntas, portanto o melhor, será não as fazerem.