Há quem diga que tudo é simples, nada é irracional. Tudo acontece sem apercebermos do que está a suceder. Eu não acredito. No fundo sabemos quando algo cresce, quando o oxigénio que rodeia duas pessoas não precisa de estar na sua magnitude máxima porque não precisamos dele. Quando o mundo nos parece feito de geleia e mel, os outros são todos uns anjos e a natureza que nos rodeia é de um verde incandescente. E sinto saudades desse sentimento que nos deixa estúpidos, com vontade de construir um mundo só nosso. Mas já passou tanto tempo, estamos tão longe, com vidas díspares e viradas para lados opostos, vícios estranhos e diferentes. Nunca iria dar certo, não é? E o destino sempre tratou de colocar uma pedra a impedir que começo a acreditar que era não é suposto mesmo dar certo. E só tenho de aceitar.
Desde a minha adolescência sempre acreditei que apenas há algo no mundo irracional. Que não nos deixa pensar nas consequências. Que nos impele a viver o momento como se fosse o último ou o primeiro de muitos momentos que duram eternidades. De algo que nunca deixará de fazer parte da nossa história, da nossa memória. Tudo o resto é treta e pode mudar de um segundo para o outro. Agora, com a idade a pesar já não acredito tanto no cor-de-rosa. Acredito que estou aqui para algo, não para aquilo que qualquer mulher sonha um dia com 15 anos, quando se apercebe de que já é uma criança.
Tantos já passaram pela minha vida, uns com mais significado do que outros, com melhores ou piores recordações. Uns que gostava de ter aqui ao lado para conversar, saber como corre o que o destino lhes proporcionou. Mas aqueles que realmente valem a pena são os que deixam saudades, os que nunca nos saem da memória quando nos encontramos em inúmeros locais que compartilhamos com eles. E ás vezes a saudade aperta tanto que nos faz acreditar que nunca vai deixar de existir. Alguns a saudade não traz mágoa, mas outros traz. E quando traz, magoa e não nos deixa respirar porque parece que o oxigénio que nos rodeia já não é suficiente. Não sei porque escrevi isto hoje, talvez porque me apetece e preciso tanto de estar com três pessoas muito especiais, uma já não habita entre nós e as outras duas estão demasiado distantes ou simplesmente já não precisam de mim. O meu avô sempre me disse que devia lutar, com todas as armas que tivesse, por aquilo que queria mas a coragem e o destino nem sempre ajudam. E então é, talvez, porque assim tem de ser.
P.S.: Hoje faz um ano que fui buscar o meu fabuloso confidente, o FS. Lembro-me muito bem do dia, do telefonema a dizer que já tinha chegado, da minha alegria. Da primeira pessoa, para além da família que o viu. E sinto saudades disso. De seres sempre a primeira pessoa a ver ou saber o que acontece comigo, nem que seja apenas pelo olhar. Conseguíamos ser assim especiais...mas já foi há um ano. E outro ano virá, e outro, e outro em que nada mudará, e os outros continuarão a ser sempre melhores do que eu. Perder um melhor amigo de dez anos não é, definitivamente, a melhor coisa que pode acontecer a alguém...e, por mais tempo que passe, parece que não passa tudo o resto.
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