Estava a jantar num qualquer restaurante conimbricense, numa mesa junto à janela e com visão estratégica para a porta de entrada, quando irrompe um grupo de 4 rapazes na idade dos vinte anos. Não tinham mau aspecto, nem falavam alto, ou fizeram qualquer movimento estranho, mas a verdade é que me fizeram ficar logo demasiado atenta para uma situação normal. Estrategicamente ou não, ficaram sentados mesmo ao lado da porta, e olharam para todos os presentes com olhar fotográfico e prolongado. Pensei que estava demasiada afastada da única porta existente no estabelecimento...
A mesa à minha frente tinha dois homens e uma mulher e duas crianças. Dois minutos depois do grupo entrar, um dos homens, sentado de costas para o grupo, levantou-se e foi ter com o grupo. Falaram durante uns segundos, e três jovens sairam acompanhados pelo adulto que os intercalou. Na altura achei muito estranho, afinal porque não poderiam falar no restaurante e porque sairam três deles, ficando apenas um? Inocentemente e tentando não pensar no impensável, pensei que tinham ido buscar algo ao carro de algum, mas quando o quarto elemento que tinha ficado na mesa, se levantou, abriu a porta e não se afastou. Quando vi o braço de um outro, e a cabeça do adulto mesmo à saída da porta, percebi que não tinham ido para longe. Apenas estavam a ter uma conversa fora de portas.
Uns minutos, e eu já com o coração a pular, entram todos e o adulto senta-se com ar sombrio. Nem levantou os olhos para os companheiros de refeição, nem articulou palavras nuns bons minutos seguintes. O ar assustado daquele pai assustou-me, e pensei em milhentas coisas que se poderiam estar a passar. Algo de bom não poderia ser, ou eles não sairiam do restaurante e nem ele voltava com aquele ar pesado. Obviamente que o grupo percebeu que eu estava atenta, e não tiravam os olhos de mim, mas não aguentei tanta curiosidade, tanta necessidade de captar tudo o que conseguisse.
Ainda hoje sei quantas cervejas bebeu cada um antes de eu sair, o que pediram para jantar, quem bebeu ice-tea, ou aquele que intercalou as 4 cervejas com um ice-tea. Ainda hoje me lembro de, dois segundos depois de entrarem, terem colocado a chave do carro em cima da mesa. Ainda hoje me lembro que o condutor já tinha bebido, à minha saída, cinco cervejas com álcool. E dificilmente me vou esquecer da cara dele porque era o mais observador do grupo, e o que mais me topava. Ainda hoje estou a remoer o que raio se terá passado. Ainda hoje a minha curiosidade não está satisfeita e inquieta-se por aquilo que pode acontecer àquele homem. Ainda hoje me lembro de quando me dirigi ao carro, e percebi que o carro deles, ou pelo menos a marca da chave, era a chave de abertura do carro que estava estacionado atrás do meu. E, ainda hoje me lembro da matrícula. Nunca se sabe se pode dar jeito. Ás vezes não entendo o que me dá para fazer estes filmes, mas garanto que tudo isto aconteceu, e não foi nenhum filme na minha cabeça. Posso estar a exagerar, e eles terem saído lá para fora apenas para ver se fazia mais frio do que quando entraram, e a cara pesada do adulto estar relacionada com o casaco de que se esqueceu em casa. Quem sabe...
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