Na última Quinta-feira ao acordar, lembrei-me do jogo do final do dia e pensei sobre ele. Senti medo, não de perder mas de ser o último jogo do nosso mister ao serviço da Selecção. Lembrei-me do que todos diziam, "vai ser um jogo fácil a Portugal e somos os favoritos", e acalmei um pouco. Mas algo me martelava na cabeça a dizer que iria ser o último.
Jogamos bem, tivemos muitas falhas defensivas, alguns azares, algumas ajudas em termos de decisões do árbitro, e perdemos com garra. Lutamos até ao último minuto. Marcamos um segundo golo que nos acendeu a esperança e nos fez bater o coração com mais força. Lembramo-nos do Eusébio do Mundial e desejamos ardentemente que ali nascesse uma nova "pantera negra". Não deu. Acabou. E nada mais há a fazer.
Acabou o tempo do Scolari. Alguém que nos fez cantar o hino a plenos pulmões, saber a letra de cor e salteado, e ter orgulho em ser português. Numa época em que ficamos sem primeiro-ministro porque ele optava, com o rabinho entre as pernas, por ir ganhar mais uns cobres para a Comissão Europeia, o desemprego galopava cada vez mais alto, o défice estava nos píncaros e o país sentia-se confuso e abandonado. A minha memória não é curta e nunca me vou esquecer do Europeu de 2004 e do Mundial de 2006. Do sentimento transmitido pelo Scolari e, obviamente também pelos jogadores. Da esperança. Do sonho. Do ser possível sorrir mesmo com uma vida de treta. De nos sentirmos orgulhosos de qualquer coisa que diga respeito a este pequeno país plantado à beira-mar.
No início deste Europeu tive de engolir em seco quando olhei para a equipa e não vi o Figo. Fazia-me falta. E agora terei de olhar para a selecção sem um dos melhores treinadores portugueses. Sim, porque ele para mim é tão português como o Pepe e o Deco (continuo por não o desculpar de não cantar o hino mas depois dos últimos jogos dei-lhe um desconto...). É mais português do que muitos que por aí deambulam. Até mesmo a classe política devia aprender muito com o Sôr Scolari. Aprender a dar esperança, a ser verdadeiros, a sonhar com um pé assente no chão e outro no ar, a acreditar, a dar valor, e a formar uma equipa com milhões de portugueses. Vou ter saudades. Muitas. O próximo jogo da Selecção, com outro treinador, vai ser difícil de ver, de acreditar porque vai fazer falta alguém. Muito importante. Para sempre!
P.S.: Depois do anúncio da saída de Scolari, ouvi num debate na TSF muitas críticas a Scolari. Um sem número de idiotices. "Ele já se devia era ter ido embora há muito tempo", "não precisamos cá de mais brasileiros", "ele que vá e não volte", etc. etc. etc. Fiquei de mau humor e irritada por continuarmos a ser um país de memória curta, para os políticos e até para um treinador, ou já não se lembram do conseguido: "vice-campeão europeu de 2004", e "4º lugar no mundial de 2006". Quem conseguir melhor, por favor, que se chegue à frente! Quem não conseguir, o melhor é estar caladinho e não dizer asneiras. É por sermos pobres e mal-agradecidos que ninguém nos quer aturar...!
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