Num qualquer Polítécnico deste país, uma qualquer senhora com menos do que a escolaridade obrigatória tinha como função cozinhar para as crianças da creche desse mesmo estabelecimento. Com os dias, os meses e os anos a exercer a mesma função junto de crianças que ao seu lado passam os seus dias desde os 6 meses de idade, até mais ou menos aos quatro anos (agora fiquei com dúvidas mas julgo ser mais ou menos essa a idade máxima para as creches), ela era uma presença habitual. E todos os dias quando chegavam, as crianças lhe iam dar os "bons dias", e as mais entusiastas um beijinho. E ela, estéril por azar da vida e já acima dos 40 anos, tratava-os como se fossem filhos saídos do seu próprio ventre.
Um maldito dia esse qualquer Politécnico, deste desenvolvido e humano Portugal, resolveu contratar outras senhoras com pouco menos que o 9º ano de escolaridade para uns meses de trabalho. Assinaram um mísero contrato de meses e começaram a trabalhar e a ganhar uns parcos tostões. Ora, a regalia destas noviças era o facto de poderem recusar um posto, até que lhes fosse proposto algo melhor (leis feitas por portugueses). E depois de recusarem ficar nas cantinas a limpar os tabuleiros, resolveram perguntar se na creche havia vagas na cozinha.
E a azarenta cozinheira de todos os dias de todas aquelas crianças teve de mudar de posto. Sem dizer um "ui"! E as crianças começaram a dizer "bons dias" a desconhecidos e a perguntar a si próprias se a cozinheira de todos aqueles anos já não gostava delas. Ou estaria farta do barulho que elas faziam. Ou se teriam feito alguma asneira...! Questionavam os pais sobre a razão pela qual ela se tinha ido embora! Sem os pais conseguirem explicar de forma racional o que de facto tinha sucedido!
Mas há mais! No caminho para a creche as crianças passavam pelo refeitório onde a malfadada antiga cozinheira estava agora a trabalhar. E perguntavam: "Maria, porque te foste embora? Já não gostas de nós?" E a estéril senhora não conseguia controlar as lágrimas, e mal lhes respondia. Agora só pede para que alguém a despeça porque já não aguenta mais suportar tudo isto, todos os dias.
Este é o mundo real!
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