Joaquim Cardoso Dias acusa o Público de uso indevido de uma fotografia sua no suplemento Ipsilon. A dita imagem já havia sido publicada no Ensino Magazine, mas isso não foi referenciado no suplemento, juntamente com o nome do autor. Ele resolveu escrever uma carta de indignação ...!
"Não sei a quem dirigir este email. No entanto, tenho de escrever estas palavras de maior desencanto. Já remeti vários emails para o endereço ipsilon@publico.pt, mas não obtive qualquer resposta. O caso que seguidamente irei relatar não é inédito comigo. Os outros casos deixei passar em branco por falta de tempo ou por não ter deles conhecimento atempadamente.No passado dia 11 de Maio de 2007, e como é habitual, comprei um exemplar do Público, porque aprecio alguns artigos e redactores - alguns são meus amigos. Quando ainda na rua folheava, por acaso, o Ipsilon fico surpreendido com uma fotografia inserida na página 19, ilustrando um artigo de fundo com o título "O cantautor infame" da autoria de Joana Amaral Cardoso . Essa fotografia é-me muito familiar porque sou eu o autor dessa imagem. A fotografia que me refiro é do cantor Nuno Guerreiro. Chego a casa. Ligo o computador e entro na net. No Google escrevo o link “NUNO GUERREIRO À CONVERSA COM JOAQUIM CARDOSO DIAS” e imediatamente aparece a fotografia e a entrevista que realizei há alguns anos ao Nuno Guerreio e que foi publicada no Ensino Magazine. A fotografia estava diferente, mas mesmo assim a reconheci. Fiquei magoado, ofendido, surpreendido... Nem sei exactamente explicar como me senti e como me sinto ao escrever este testemunho. É lamentável e profundamente desonesto que um jornal como o Público faça semelhante atentado aos direitos de autor de alguém que escreve, fotografa e publica livros como eu – mesmo que eu fosse alguém anónimo merecia o mesmo respeito e consideração. Mas se o furto em si mesmo dessa fotografia é grave – mais grave é ainda essa fotografia ter sido manipulada como que para disfarçar o roubo; para camuflar a apropriação, o furto, roubo de algo que não lhes pertence. Isso é verdadeiramente infame. Agiram com má fé. Comportaram-se com verdadeiros impostores. Apelidaram, no artigo, o George Michael de infame. Resta-me dizer que infames são os autores deste roubo – autora do texto e chefes de redacção e sei lá mais quem. Já falei com amigos jornalistas e fotógrafos que me aconselharam a fazer um escândalo. Mas sou ponderado. Não gosto de ondas. Tento sempre procurar dias de mar calmo para navegar e fugir às tempestades que outros têm prazer em provocar.Para concluir, acrescento que este lamentável acontecimento (devo confessar) me entristeceu e revoltou imenso. Nunca imaginei que o jornal Público fosse capaz de tamanha safadeza.Informo que se não tiver uma resposta pública e um pedido de desculpas formal que me satisfaça irei tomar providências judiciais. Não pensem, no entanto, que quero apenas uma nota de roda pé no fundo de uma qualquer página do jornal. Quem me conhece, sabe que sou um ser humano simples e alérgico a fogos de artifício. Mas semelhante roubo merece e exige outro tipo de tratamento para evitar ataques deste nível ao trabalho dos outros. Se não sabem a conduta que um jornalista deve ter, eu posso dar-lhes lições sobre esse tema. Ou então vão plantar batatas. Talvez seja esse o nível a que muitos jornalistas estão. Vivemos numa tempo assim. E infelizmente outros profissionais competentes estão no desemprego ou a plantar as batatas que vocês não estão a plantar. Enfim. Quem tiver ouvidos que oiça."
Rui Araújo, provedor do Leitor do Público foi célere na resolução deste problema e já publicou a "resposta". Criticou o editor do Ipsilon pela sua atitude não ponderada e irresponsável de publicar aquilo que não era seu, não aceitando as desculpas da "pressa devido ao fecho da edição" como justificação plausível para o acto. Quero demonstrar o meu apreço pelo trabalho de Rui Araújo, apesar de provedor do Público, não se coibe nem um pouco de criticar o trabalho feito pelos seus colegas de casa, com rigor, exactidão e isenção.
P.S.: Eu própria também já tive fotografias da minha autoria publicadas, com o denominado autor "arquivo"... mas como não me chamo Joaquim Cardoso Dias, e o dito jornal não é o Público, nem sequer me vou chatear. O facto é que os direitos de autor são uma realidade e é muito importante que saibamos reclamar por eles... até porque a vida está difícil para todos!
Comentários
http://insustentaveleveza.blogspot.com/2007/05/projecto-de-ano-3.html
Realmente, não se espera que um jornal como o Público tenha alguém capaz de fazer o que fez, mas na realidade, isso parece ser cada vez mais constante nos dias que correm na imprensa escrita... :/
[agora aproveito este espacinho para expôr a minha opinião pessoal sobre a temática do uso da Fotografia em artigos de imprensa escrita...]
Cada vez aparenta haver menos respeito pela Fotografia e direitos dos seus autores, ainda mais num meio informativo como os jornais, já que, para muitos, a fotografia é considerada um "anexo" ao artigo publicado! :S
Um exemplo disso: em todos os artigos, aparece sempre o nome do autor do texto (isso parece ser sagrado!), mas nem sempre a foto tem uma menção ao seu autor ou fonte (algo que não parece ser muito relevante para muitos autores/editores!). E isto nem sempre acontece só nos jornais "mais pequenos"!
Engraçado que, para se poder contar uma notícia é preciso escrever algumas linhas (nem que seja para fazer um mísero parágrafo!), quando muitas vezes essas linhas podem ser "substituídas" por uma simples imagem.
Inclusivé, em alguns casos, a notícia é "relatada" mais pela imagem do que pelo texto redigido... (faz-me recordar a secção "No comments" da Euronews, em que a imagem de vídeo "fala por si mesmo", não existindo comentários áudio associados à reportagem).
Por vezes questiono-me se o texto é que não será, em muitos casos, o "anexo" da fotografia numa notícia...
Para terminar, lanço o desafio aos diversos leitores desta notícia/comentários, para partilharem as suas opiniões relativamente a este assunto... É sempre bom saber a opinião das outras pessoas! ;)
Não acho que exista um menor respeito pela fotografia e pelos seus autores...também há reportagens mais ou menos "imitadas"! A diferença é que adulterar um texto é fácil e uma imagem é impossível. Já te contei da cópia de tema de uma reportagem que presenciei quando estive no JN..apesar de nenhum editor ou jornalista ter sequer desconfiado..
Anyway, também não axo que a importancia da fotografia seja menor agora... axo que é a mesma! E nos jornais mesmo, sem ser online, a maioria das fotografias estão assinadas..não sei que jornais andas a ver;) A fotografia sempre foi um complemento de uma notícia ou reportagem... sempre, sempre! Até acho que agora lhe está a ser dado mais espaço, porque há a noção de que cativa mais os leitores, sobretudo nas capas..!
Um dos problemas é não haver um espaço, jornal ou revista, que nos forneça mais imagens do que texto... isso seria sim o ideal! Por exemplo, a Visão às vezes (menos do que seria recomendável) traz uma reportagem feita com imagens, apenas com um textozito no inicio, de introdução ao tema... mas, e não me perguntes a razão, isso não é habitual. Talvez a razão esteja no medo de romper com a tradição, o medo de ser diferente e o público não gostar dessa diferença.
Outro dos problemas são os próprios profissionais que não insistem num maior espaço para as suas imagens. Acho que deviam lutar por ter um papel mais decisivo na construção da informação, mas isso só depende deles. O que via no JN, com uma excepção, é que eles apenas queriam fazer o trabalho rápido, tirando uma ou duas fotografias, e voltar para o jornal para sair a tempo e horas. A excepção era um, completamente aventureiro e maluco, que de certeza, não se importava de andar uma semana inteira a fazer fotografias sem parar... para ocupar três ou quatro páginas do jornal. Mas lá está, é preciso ter amor à camisola, não ter problemas com o horário de expediente e sobretudo sentir muito gozo por aquilo que se faz... o que, infelizmente, nem sempre acontece.
Obrigado por lançares a discussão :) Acho que não vai ter muito eco porque o blog não é muito frequentado, mas já ficas com a minha opinião! ****
Ainda bem que partilhaste a tua própria opinião que é, sem dúvida, mais "in loco" da realidade do Jornalismo nacional que a minha, já que eu sou "mero observador externo"! :) Mas é bom haver hoje espaços como estes para se trocarem ideias, opiniões, comentários, etc!
E, como já esperarias da minha parte, teria de vir "defender" a minha dama que é a Fotografia! :D
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Muito obrigada pelo teu comentário no meu blogue. Enriquece as minhas reflexões!
Já agora: como chegaste às "Páginas de um Estágio?".
Outra coisa: esse teu comentário sobre o jornal Público também dava um bom post...
É engraçado como a blogosfera nos torna próximas sem nos conhecermos... Obrigada pelo comebntario.
Hoje em dia, com os meios electronicos, por isso esse jornalista que descreves ou devia ser muito respeitado ou entao estava se calhar nas vésperas de ser despedido.
Lamento, de certa forma as perguntas que faço prendem-se com questões dessa natureza...Queira-se ou não uma empresa tem de ter lucros...
Eheheheh temos de falar da ideia ;)
P.S.: Descobri um livro muito bom sobre o jornalismo em si, e que tem uma parte sobre fotojornalismo que te deve interessar! Lembra-me para eu te dzer ;) ***
Encontrei o blog através do "jornalices"! O mundo dos blog's é duma imensidão incalculável!
Quando contei a história do Leonel, o jornalista que só queria "aventura", queria dizer que muitos deles não sentem gozo no que fazem...apenas o fazem por obrigação. O Leonel tinha e deve continuar a ter, um enorme amor pela fotografia, e também pela novidade... mas para ele passar um dia inteiro a editar fotografias na redacção, era como se o estivessem a esfaquear lentamente (e isso acontecia muitas vezes). E acredita, ele é o melhor fotografo do JN, e por isso era tão solicitado para fazer serviços.
É muito chato (e irritante) quando sais com um fotografo que mal sai do jornal só fala em voltar... como se nao estivesse interessado na descoberta de dados novos da história... mas apenas quisesse sair a horas. No jornalismo não há horas... o tempo é o fecho da redacção, o resto não importa. Mas esta é apenas a minha visão romântica do jornalismo.
Relativamente ao teu formador, penso que tem razão... o importante é de facto memorizar "aquele instante" e só depois devemos pensar nos aspectos estéticos da fotografia... mas isso não significa que, quando se pode e se tem tempo, não se pense antecipadamente nos aspectos estéticos... digo eu! Obviamente que devem existir imensas opiniões sobre isso!
Volta sempre! ***
Mas, se ainda tiveres essa ideia em mente, depois podemos conversar melhor sobre isso! :)
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E, para além disso, já devias saber que odeio tirar fotografias sozinha... sei que é um trabalho solitário, mas não gosto que o seja assim! De qq forma temos de falar ;)
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