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Os historiadores do imediato

O texto integral está aqui. É um texto do José Mário Branco, em que discute e questiona os jornalistas sobre o seu papel actual, o papel que não querem ter mas deviam. Um questionar que, possivelmente, não foi lido por quem o devia ter sido, e mesmo que isso tenha ocorrido, não se verificaram mudanças de atitude. O texto foi publicado em Julho de 2006!

Apenas destaco os "pensamentos" mais mortificantes...! Não é fácil ler e dar razão a José Mário Branco, mas vale a pena. Pelos jornalistas e pelos não jornalistas mas cidadãos, que devem exigir uma informação de qualidade! Cada vez mais inexistente no nosso país... basta olhar para as televisões.

"Parece-me, todavia, legítimo perguntarmos o que é feito dos jornalistas e do jornalismo que outrora representaram algo de emancipador nas nossas vidas. No tempo do exílio, antes de 1974, ciclicamente discutíamos a questão da "objectividade" e da "isenção" do "bom" jornalismo, em geral em torno dos exemplos que nos estavam mais próximos: o Le Monde, a BBC e o New York Times. Os que tínhamos convicções comunistas ou marxistas, sustentávamos – creio que com razão – que não existe objectividade nem isenção que escape ao filtro dos interesses de classe. Mas aceitávamos o papel positivo de um certo jornalismo "de qualidade", o qual, duma forma geral, em nome de princípios como a democracia e os direitos humanos, se esforçava por dar à opinião pública um retrato honesto e quanto possível verdadeiro da realidade dos factos."

"Uma deontologia específica, cujo símbolo vivo, em França, era Hubert Beuve-Méry, fundador do Le Monde... " (e quantos jornalistas actuais, ou que se auto-intitulam como jornalistas sabem quem foi Hubert Beuve-Méry... não foi apenas o fundador do Le Monde...!)

"...contributo de alguns jornalistas – todos estrangeiros – que ainda são jornalistas porque pagam o preço do despedimento, da marginalidade, da perseguição e por vezes da vida. Jornalistas íntegros e corajosos que preferem passar fome e arriscar a vida (embora também tenham estômago e filhos lá em casa) a serem roldanas, mesmo que silenciosas, da tenebrosa máquina de propaganda do Império. John Pilger, Danny Schechter, Kurt Nimmo, Robert Fisk, Dahr Jamail, Thierry Meyssan, Michel Colon, o colectivo Indymedia e tantos outros, para não se venderem, para não serem terroristas mediáticos, têm criado jornais, revistas, sites alternativos, redes subterrâneas de informação. Lutam para continuarem a ser jornalistas. E pagam o preço que têm de pagar. Dão provas de que prefeririram andar a lavar escadas ou a apanhar o lixo, a terem de exercer a sua profissão à custa do silèncio, da subserviência ou da comodidade."

"Diana Andringa queixa-se de que, agora, há "jornalistas a dias", que os seus empregos são precários. Discordo: ou se é jornalista, ou se é outra coisa qualquer (mesmo que se passe por jornalista)... Não assumem que, de facto, já não é possível fazer verdadeiro jornalismo nos grandes medias. Porque o que nos ensinaram é que ser jornalista é ter por profissão apurar a verdade dos factos e comunicá-la aos seus concidadãos, pelos meios necessários para o efeito. "

"...Adelino Gomes, Mário Mesquita, Joaquim Furtado, Luis Filipe Costa, José Nuno Martins, Rui Pedro, João Paulo Guerra" (são ou foram jornalistas portugueses!!)

"Mas entre os jornalistas há corporativismo a mais, e autoquestionamento a menos. Há falta de compromisso com o público e com a verdade. Falta de coragem e de ousadia. Não vemos surgir iniciativas jornalísticas marginais e críticas. Não se ouvem os gritos – de um jornalista que seja! – a denunciar o mundo orwelliano em que trabalha. Querem convencer-se de que os empregos dos jornalistas são empregos como os outros. Mas não são. Eles sabem escrever e comunicar, conhecem as técnicas e os canais da profissão – nós, não. Pior: eles sabem que, lá fora, há jornalistas a resistir. E isso é, para os jornalistas, uma responsabilidade terrível: não podem dizer que não sabiam, não podem dizer que não sabem como fazer, nem podem dizer que não podem fazer nada. Se são consciências acordadas, são consciências sem descanso. Se estão a dormir, nós estamos fartos de esperar que acordem. "

Falando por mim, que não trabalho como e começo a acreditar que nunca o vou ser, sinto-me mal ao ler este texto. Por ser verdadeiro, e por ainda não estar toda a verdade aqui redigida. Talvez agora compreendam porque digo que não devemos acreditar totalmente naquilo que os media divulgam... para grande tristeza minha!

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