Na sociedade ocidental persiste o medo do Islão devido à militância e ao terrorismo que ele, aparentemente, inspira. Os europeus têm medo dos fundamentalistas, sobretudo depois do ataque do 11 de Setembro, e dos posteriores ataques de Londres e Madrid, entre outros.
Nos últimos cinco anos a Al-Qaeda organizou 22 atentados, numa onda que parece estar sempre a crescer, de forma incontrolável. As recentes guerras do Líbano e do Iraque não não contribuíram em nada para diminuir este sentimento antiocidental do mundo islâmico, mas contribuiu em muito para o aumento desta rede "tipo polvo" da organização. Há cada vez mais células que nao carecem de hierarquia, e buscam os métodos, a coordenação e inspiração na Internet. Nas grandes cidades, os jovens são os elementos mais aplicados por se sentirem alienados numa terra que não é a deles, e por procurarem uma identidade, agindo com um sentimento de frustação.
Numa reunião realizada em Meca no final de 2005, muçulmanos moderados, líderes políticos e representantes do mundo cultural apelaram a uma maior abertura à modernidade. Chamam a atenção para a necessidade emergente de o Islão dizer basta às pessoas que se sentem no direito de condenar à morte e apelar à guerra santa (jihad) por motivos políticos e pessoais.
O documento elaborado em Meca também refere a visão deformada que o Ocidente tem do Islão, muito por culpa destes fundamentalistas. Os próprios muçulmanos estão divididos em encontrar uma solução para este problema: muitos consideram que os ocidentais não respeitam o Islão tal como os seus líderes, no entanto, outros mais moderados apostam na necessidade de uma nova reinterpretação do Alcorão e uma adquequação do Islão à modernidade. Acusam o isolamento do Islão como a causa para não serem respeitados por outros povos, e sendo este o problema há uma necessidade urgente de evolução.
O mundo islâmico está assim ele próprio em crise, dividido entre fundamentalistas e moderados, devido à existência de interpretações díspares do seu livro sagrado. Há três pontos de atrito mais fulcrais: os direitos humanos, o direito familiar e a posição das mulheres na sociedade (o Islão não reconhece a igualdade jurídica entre homem e mulher, para além das discriminações abusivas a que as mulheres muçulmanas são sujeitas), e finalmente o direito de liberdade religiosa (proibe a existência de outras religiões e pune com a morte quem opte por outras crenças).
A 1ª Guerra Mundial e a queda do Império Otomano reforçaram a corrente fundamentalista que reafirma o Islão como sistema religioso e social, fechado, com respostas para todos os problemas, sem necessidade de recorrer a elementos externos. Foi esta corrente que inspirou o aparecimento dos Irmãos Muçulmanos (1906-1949), que por sua vez estão na raiz do aparecimento dos vários grupos fundamentalistas radicais e da Al-Qaeda. Alguns destes regimes islâmicos têm contado, ironicamente, com o apoio do Ocidente por questões geoestratégicas ou pragmaticamente energéticas.
O cardeal Ratzinger, ou Papa Bento XVI, chefe máximo da Igreja Católica inicia hoje (a esta hora ainda está vivo!) uma visita de três dias à Turquia. Poderia ser uma boa oportunidade para espalhar uma mensagem de tolerância, paz e convivência entre as duas religiões, não fossem os já proferidos discursos polémicos. Esperemos que as coisas mudem, até porque a Turquia está a um passo de entrar para a União Europeia, e convém que as relações sejam as melhores possíveis. O próprio Papa classificou esta possível inclusão futura como "um grande erro"...
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