O presidente norte-americano, George W. Bush, usou ontem pela primeira vez o seu poder de veto, travando uma lei que pretendia abrandar os limites ao financiamento federal na investigação sobre células estaminais embrionárias. Esta área cientifíca é considerada muito promissora no desenvolvimento de curas para várias doenças como Alzheimer, diabetes ou cancro. "Esta lei permitiria pôr fim a vidas humanas inocentes, na esperança de encontrar vantagens médicas para outros. Ela vai além de uma fronteira moral que a nossa sociedade deve respeitar", justificou Bush. Esta decisão ideológica terminou com os acesos debates políticos dos últimos dias.
A lei tinha sido anteriormente aprovada nas duas câmaras do Congresso, e obteve maiorias fortes, inclusivamente por parte do Partido Republicano. No Senado a maioria favorável à lei quase atingiu os dois terços que teriam comprometido o veto de Bush. A favor, votaram 63 senadores; contra, apenas 37.
A Casa Branca justifica o veto por considerar a lei "imoral". O documento visava terminar com os limites impostos há cinco anos no financiamento da investigação. Embora a maioria da população seja favorável à investigação sobre células estaminais (três em cada quatro americanos), a direita religiosa, com apoio da Igreja Católica, opõe-se ao uso de embriões in vitro excedentários, por considerar que estes são vida humana. Os defensores da lei sublinham que estes embriões, se não forem usados na investigação de células estaminais, serão destruídos.
"O Presidente acredita firmemente que não é correcto que o Governo Federal, em nome da investigação, financie aquilo que muitos consideram ser um assassínio", explicou ao início da tarde o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow. A campanha para evitar este desenlace foi intensa e envolveu celebridades, além de famílias cujas doenças poderiam ser curadas através de novas técnicas prometidas pela medicina. Um dos senadores mais influentes, o democrata Edward Kennedy, criticou ontem o anúncio deste veto, assegurando que "com ou sem o presidente, a investigação sobre células estaminais vai acontecer. É apenas uma questão de tempo".
Charlotte Raab, correspondente da France Press em Washington, recordava ontem que o presidente, a Igreja Católica dos EUA e a Direita religiosa entendem que "os embriões supranumerários in vitro usados na investigação de células estaminais representam já um princípio de vida humana, que é preciso não sacrificar à investigação". A jornalista refere ainda que, por um lado, "cerca de três quartos dos norte-americanos dizem-se a favor do desenvolvimento da investigação médica de células estaminais" e, por outro lado, "o projecto de lei rejeitado por Bush, e aprovado por grande maioria quer do Senado quer da Câmara dos Representantes, tem o apoio de figuras ilustres da Direita norte-americana, como Nancy Reagan, viúva do antigo presidente".
Esta notícia chamou-me a atenção pela incongruência (já habitual aliás) nas palavras de George W. Bush: "Esta lei permitiria pôr fim a vidas humanas inocentes, na esperança de encontrar vantagens médicas para outros. Ela vai além de uma fronteira moral que a nossa sociedade deve respeitar." E os outros inocentes que morrem por não ser feita a investigação?... Ou esses já não são vidas humanas inocentes!?
Pelo menos não é só Portugal que ainda vive na Idade Média...
Comentários
eu tenho a mania de pensar muito para a frente, e não consigo parar de me perguntar como seriam esses embriões se os deixassem desenvolver. é verdade que podem não ser consideradas pessoas, ou seres vivos... mas eventualmente seriam.
...não devia ter tocado neste assunto :p
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se não explicares agora duvido muito que algum dia tenhas oportunidade de explicar, porque me parece que eu fui confundido com outro alguém que não sou eu ;)
Anyway embriões excedentários são embriões (suponho q saibas o que são embriões!) não viáveis (ou seja, que não tiveram sucesso na fertilização, ou reprodução medicamente assistida), com 5 ou 6 anos, que podem ser utilizados para investigar doenças. São mesmo tratados como uma fonte de conhecimento pela enorme utilidade que têm na cura de várias doenças. A questão que se coloca nos EUA e em Portugal pela Igreja à pouco tempo, é que existem pessoas que consideram estes embriões como sendo "vidas humanas", e por isso não estão de acordo com o seu uso posterior na investigação.
Há pessoas que também não concordam com os ratos de laboratório porque são animais! Mas esquecem-se da quantidade de vidas que a morte de um ou dois (ok... são muitos mais!) ratos pode salvar!
Não sou nenhuma especialista mas espero ter explicado bem... e sobretudo sem erros!
o que me parece é mais um caso de autopsias as cadáveres para estudo, quando começou era feito às escondidas e condenado por políticos e religiões hoje é pratica comum, apesar de haver um maior "desconforto" por parte dos países maioritariamente cristãos do sul da europa, mas é algo aceite. eventualmente também isto será aceite por países menos conservadores, de que os estados unidos não são exemplo, e passará a ser algo comum.
todo o drama que envolve a temática, provavelmente deve-se a uma falta de conhecimento por parte de... de pessoas como eu, que não se preocuparam em se informar (mas eu tenho exame daqui a meia hora, acho que posso me desculpar com isso :p)
Não é falta de conhecimento mas sim uma veneração exagerada à Igreja: eles dizem algo, e os cristãos aceitam sem pestanejar! Não pode ser assim!
Também não sou perita no assunto, e a explicação que dei deixa mto a desejar.. mas tentei informar-me há uns tempos atrás e quando percebi o que estava em causa, formulei uma opinião. Mas enfim... esta é a mesma história do aborto..