Na primeira jornada do Roteiro para a Inclusão, quando no final de Maio se deslocou às regiões deprimidas do Interior alentejano e algarvio, Cavaco Silva afirmou-se um “ouvidor”. O que o Presidente da República vai ouvir hoje e amanhã são relatos de sofrimento e abandono a que são votados os mais fracos: as crianças e as mulheres.
Mas, tal como antes, Cavaco Silva pretende, ao longo deste roteiro dedicado às crianças em risco e à violência doméstica, dar visibilidade às instituições que fazem bom trabalho no apoio às vítimas e apelar à mobilização da sociedade civil.“Preocupam-me os casos de crianças vítimas de negligência e de maus tratos físicos e psicológicos, que regularmente são objecto de notícia dos órgãos de Comunicação Social”, afirmou o Presidente da República no seu discurso do 25 de Abril. Tinha em mente crianças como Fátima Letícia, sujeita a abusos sexuais com apenas um mês e meio de vida, ou Vanessa, de cinco anos, que morreu na sequência das queimaduras infligidas pela avó, ou ainda Joana, que terá sido esquartejada e cujo cadáver não foi encontrado.
Cavaco Silva inicia a segunda etapa do Roteiro para a Inclusão no Centro de Apoio à Vida de Valongo, que presta auxílio a grávidas adolescentes. Em 2004, naquele concelho, 32 raparigas entre os 13 e os 18 anos engravidaram. O Presidente da República vai depois à Póvoa de Varzim visitar um centro da Cruz Vermelha que acolhe 20 crianças dos três aos 14 anos. Amanhã, em Oliveira de Azeméis, Cavaco Silva conhecerá um jovem que devia ter ficado oito dias no Centro de Apoio Familiar Pinto de Carvalho e que ali vive há 15 anos.Cavaco não visitará as casas, em Aveiro e Ílhavo, onde se dá abrigo a mulheres agredidas pelos maridos e companheiros. São locais que se pretendem resguardados de olhares públicos, não vá o agressor ficar a saber que a vítima ali reside e decidir vingar-se. Ainda assim, duas técnicas falarão ao Presidente da República em nome de quem lá vive. As mulheres estão cada vez menos dispostas a calar agressões. Sinal disso são as 249 detenções efectuadas pela PSP no ano passado pelo crime de violência doméstica. De Janeiro de 2000 a Dezembro de 2005 foram detidos 665 indivíduos, uma média de 111 por ano, nove por mês. Sobre a violência doméstica, “nomeadamente a que atinge maioritariamente a mulher”, Cavaco disse, no dia 25 de Abril, não valer “a pena esconder a realidade silenciada que por vezes escapa à atenção das instituições. Trata-se, antes de mais, de um problema de dignidade humana, para o qual não pode haver tolerância nem resignação”.
(Correio da Manhã, 12 de Julho de 2006)
(Correio da Manhã, 12 de Julho de 2006)
O Correio da Manhã voltou a violar o Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses (Código 7: O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor). Parece que esta bébe para além dos abusos sexuais a que foi sujeita (a primeira aqui demarcada), também tem sido vítima de exposição excessiva nos meios de comunicação social. Primeiro no Público, agora no Correio da Manhã... e provavelmente outro meio de comunicação ultrapassou os limites e publicou o nome desta vítima... que ainda é uma criança e nem sequer se pode defender! Mas se isto acontece é porque alguém o permite. Ou se não o permite é porque é demasiado brando para com estas situações. Eis o que diz o Conselho Deontologico do Sindicato dos Jornalistas.
E o Sr. Presidente da República (eleito por uma tão larga maioria, como ele defendeu) não tem nenhuma reacção perante esta situação? Talvez por andar distraído a distribuir abraços, beijinhos e rebuçadinhos às pobres crianças, às pobres mulheres maltratadas! Mas suponho que ele tenha assessores que se tenham dado conta de que altos valores da dignidade humana estavam a ser violados por jornalistas ditos profissionais! E ninguém fez nada!? Ou disse nada?!
... mas também desde quando Cavaco Silva se preocupa tanto com os pobrezinhos, desfavorecidos, as criancinhas, os velhinhos, pobrezinhos, coitadinhos (lembram-se do seu "longo" discurso do 25 de Abril, em que ele tantas vezes repetiu a palavra liberdade?!)? Desde que se tornou Presidente da República? Ou ainda quando era primeiro-ministro (mas ninguém deu por nada nessa altura!)?...
Bahh deixem-se de hipocrisias! Já sei que vou ter de o tolerar por mais 10 anos! Escusa de andar a preparar a próxima campanha presidencial tão cedo. Basta daqui a 4 anos!! Com a amnésia típica dos portugueses, já ninguém se vai lembrar do que fez em 2006!
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