No meio de um almoço barulhento olhei para a televisão e vi um avião a chegar ao Aeroporto da Portela, recebido por um jacto enorme de espuma vermelha e verde (que mais parecia amarela). Sairam os jogadores, com Scolari e Eusébio, o símbolo da grande glória portuguesa do Mundial de 1966, que infelizmente não vivi. Os arrepios sucedem-se, os sorrisos solitários são contínuos enquanto o barulho e a alienação reinavam à minha volta. Apercebo-me que muitos nunca irão sentir o que eu, e muitos portugueses sentimos nestes últimos dois anos. Vice-campeões europeus e o 4º lugar no Mundial de 2006. Esta selecção fez história e quem os acompanhou e apoiou também faz parte dessa mesma história!
São sensações indescritíveis, mas onde transparece o imenso orgulho, agradecimento e admiração que sinto por estes atletas que tanto se esforçaram por defender a nossa camisola. Pensar que o Mundo é enorme, tem imensas selecções com muitos bons jogadores... mas nessa imensidão sobressaimos nós, com mais 3 selecções! Portugal (país que muitos nem sabem que existe, e outros pensam que é uma província de Espanha) sobressaiu neste Mundial, aos olhos de todos, ao garantir o 4º lugar e deixando para trás 28 selecções. Obviamente que preferia ficar em 1º, ou 2º ou 3º, mas também prefiro a 4ª posição a nem sequer ter disputado uma meia final! E foi nisso que me concentrei quando Zidane marcou o penalty e colocou Portugal a perder pela primeira vez neste Mundial. A "subida" foi tão grande depois da linda vitória com a Inglaterra, que já se adivinhava que a "queda" iria fazer sofrer.
De repente tudo se cala à minha volta e surge uma incompreensão por tantos portugueses terem ido receber os jogadores da nossa selecção ao aeroporto, ao estádio e ao longo da circular, sob um calor abrasador e no dia mais quente do ano, segundo o que dizem. Eu entendo e também lá teria estado caso vivesse em Lisboa! O orgulho é enorme e o agradecimento é ainda maior. Os jogadores e a equipa técnica merecem todo o nosso apoio e agradecimento pelo esforço demonstrado e pela boa exibição que tanto dignificou Portugal e os portugueses. Não devemos ser como os brasileiros que receberam os seus jogadores com apupos, e desconfio que não os mataram porque a polícia não lhes deu esse espaço. Na minha opinião, acho que devemos sempre agradecer com muito entusiasmo, mesmo que tivessemos ficado pelos 1/8 de final.
Não sei se alguma vez irei viver momentos semelhantes aos vividos no último mês: vitórias atrás de vitórias, boas exibições, entusiasmo nas ruas, bandeiras, muitos hinos cantados, muita emoção e muitos arrepios, incontáveis berros e palavras menos próprias, mas sobretudo, um orgulho enorme incapaz de ser transformado em palavras.
Estranho as perguntas feitas por alguns jornalistas aos adeptos que estão à espera da sua selecção: "Não ficou triste por não termos disputado a final em Berlim? Não está desiludido com a derrota contra a Alemanha?" Mas as respostas dos portugueses superam e muito a estupidez destes profissionais. Quantos na minha geração alguma vez sonharam em disputar uma meia final num Mundial de futebol? Quando terminou o jogo com a Inglaterra, pensei que estava a viver um sonho, mas afinal era realidade! Era algo tão inimaginável para mim que nem sequer conseguia conceber que Portugal pudesse vir a jogar uma final de um Campeoanto do Mundo! Talvez por isso não me tenha custado tanto a derrota com a França, talvez porque achava demais para Portugal jogar na final! Apesar deste jogo não ter corrido da melhor forma e na minha perspectiva a selecção não ter jogado tão bem como se esperava, continuei satisfeita porque a minha selecção ia disputar o 3º e 4º, facto nunca imaginado por mim no primeiro jogo deste mundial.
E não justifiquem o 4º lugar por uma questão de sorte, porque não é verdade. Foi mérito! E dos grandes! Mérito aliado a uma grande vontade, misturada com muita força e coragem que estes nossos jogadores demonstraram em todos os jogos deste Mundial, do primeiro ao último minuto. Foram todos heróis e não sei quando vou esquecer estes dias magníficos... espero que nunca!
Por ser infelizmente uma despedida, o meu agradecimento mais especial vai para o Luís Figo, por tudo aquilo que fez pela Selecção durante estes últimos 15 anos. Também pelo fantástico Mundial que nos proporcionou, lembrando que foi ele que "deu" muitos golos a alguns jogadores (o golo de Maniche por exemplo), apesar de isso nunca ser lembrado nos meios de comunicação social. Trancrevendo o que Fernando Seara escreveu no Diário de Notícias: "A quinze minutos do final do jogo, já com a Alemanha na liderança clara do marcador, Luiz Felipe Scolari faz a sua última substituição (...) E o Estádio, num momento único, junta as mãos num aplauso unânime e saúda um dos grandes nomes deste Mundial: Luís Figo. Olhei para o lado, em pleno Estádio e vejo uma família alemã, pais e filhos, de pé, a aplaudir Figo. Os mesmos que durante todo o encontro "puxaram" pela Alemanha." Para mim, Luís figo foi, juntamente com Ricardo que tantas vezes foi contestado pelos defensores de Vitor Baía, o melhor jogador deste Mundial. E um dos melhores jogadores do Mundo! No momento da despedida, é a altura ideal para lhe agradecermos tudo o que fez pela nossa selecção, pelos sorrisos que nos deu, por todos os esforços que fez por representar o nosso páís.
Mas não foi apenas Figo que jogou bem na nossa Selecção. Também destaco o Maniche, Ricardo Carvalho, o Miguel (que me surpreendeu muito e me fez acreditar que ando distraida nos jogos do Benfica), o Ricardo (como já referi), e o Ronaldo (que está francamente melhor do que no Euro2004). Aliás, a própria FIFA integrou quatro destes jogadores na sua equipa ideal: Ricardo, Ricardo Carvalho, Figo e Maniche.
Não vou falar de pessoas que não deveriam estar nesta selecção, e de outras que nem o hino nacional sabem cantar.. não merecem sequer o nome delas aqui publicado.Mas já que falamos em hinos nacionais... notei que a maioria das selecções não cantava o hino da mesma forma entusiasta com que nós - jogadores, técnicos e público - o cantávamos. Mesmo algumas pessoas que em algumas partes não sabem que palavras entoar. No entanto, e perante este entusiasmo colectivo ainda há quem tenha a coragem de não cantar nem o "Heróis do mar, nobre povo" que é aquela parte fácil de decorar e que toda a gente sabe. Acho que é preciso coragem... e mais estranhamente nunca vi ninguém na comunicaçao social a criticar este tipo de atitudes. Obviamente se fosse outro jogador iriam chover artigos de opinião sobre "O Manel não canta o hino nacional" (desculpa lá Manel, mas o teu nome é sempre o ideal neste género de situações... é o chamado "nome do povo"). Chamem-me nacionalista, patriota, o que quiserem... mas não suporto este género de atitudes... e se alguém o quis nesta selecção, eu como portuguesa não o quero... e tenho esse direito! Não digo que ele jogue mal, mas também não joga tão bem como dizem... e não cantar o hino seria grave se fosse o Ricardo a fazê-lo, ou o Pauleta, ou o Tiago (etc etc). Mas este "menino" parece que é protegido por alguém, por alguma razão especial... e escrevo o que respondi a alguém que sem argumentos disse: "Ele foi eleito o melhor jogador deste jogo pela FIFA...", "E daí? eu também tenho olhos na cara como os gajos da FIFA e tenho todo o direito de pensar de maneira diferente!"
Mas agora que somos a 4ª melhor selecção do Mundo, também temos de lutar para sermos o melhor país no que diz respeito à economia, ao desenvolvimento, às exportações, à educação, ao serviço de saúde, à prevenção dos incêndios (que agora com o encerramento do Mundial virão à tona como assunto central das nossas televisões), e em tudo aquilo que caracteriza um país desenvolvido. Temos de trabalhar para não sermos apenas o país com o maior número de telemóveis por habitante, ou o país com a maior área ardida. Temos capacidade para mais e melhor, basta que nos esforcemos e que acreditemos em nós... porque foi isso que a Selecção Nacional fez e produziu óptimos frutos.
Itália campeã mundial
Vi o jogo da final, e apesar de ter sido a Selecção que nos afastou do derradeiro jogo em Berlim, estava a torcer pela França. Talvez por gostar bastante do Zidane, ou talvez porque, apesar do meu pequeno conhecimento futebolístico, estou mais familiarizada com os jogadores desta selecção. Com a expulsão do Zizou fiquei triste e desanimada por ver um dos melhores jogadores do mundo a ser expulso do seu último jogo na selecção. Quem nunca jogou o jogo da final do campeonato do Mundo não pode criticar Zidane. A tensão é enorme, inimaginável para mim e para voces, o que gera alguma violência e impaciência... ainda mais num jogador que sabe que aquele será o seu último jogo! O grande sonho de Zizou seria terminar a carreira sagrando-se campeão mundial, e todos sabemos qual é o sentimento quando nos apercebemos que o nosso maior sonho está a cair por terra. Este terá de ser um momento para esquecer, e apenas nos poderemos lembrar de todas as jogadas fantásticas, de todos os golos, de tudo aquilo que Zinedine Zidane representa. E porque provavelmente não serei a única a pensar desta forma, foi atribuida pelos jornalistas que fizeram a cobertura do Mundial a Bola de Ouro deste Mundial de 2006, a Zidane.
Não gosto da forma de jogar da Itália, em muito semelhante à Grécia no Europeu de 2004: não há entusiasmo nas jogadas, apenas uma grande paciência e crença, jogando muito à defensiva, o que explica os únicos dois golos sofridos este Mundial (um auto-golo e um penalty). A Itália jogou pouco, entusiasmou pouco, mas aguentou muito e talvez por isso tenha merecido este título.
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