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Jornalistas na Guerra



Muito se tem falado das pessoas que saem (ou fogem) do Líbano, mas pouco se fala dos que vão para lá trabalhar. Porque alguém tem de estar no terreno, para contar aos ausentes, o que se passa. Profissionais, uns mais que outros, mas todos louvados pela coragem e sangue-frio que é necessário num cenário de guerra. Julgo que é o limite da carreira de qualquer jornalista, fotógrafo, cameramen.. não há nada mais dificil! Se se conseguir transpor este obstáculo, é possível fazer tudo!

Em Setembro de 2000, na Convenção da RTNDA, Christiane Amanpour fez uma brilhante e emotiva defesa do jornalismo. Desse discurso retiro estes parágrafos, para que alguém os entenda, se souber entendê-los:

«Disse uma vez a um entrevistador que nunca casaria. E que nunca teria filhos. Quando se tem um filho, disse, temos, pelo menos, a responsabilidade de ficarmos vivos.
Isso foi há sete anos. Entretanto, estive casada dois anos e tenho um filho com cinco meses.
Mas uma coisa estranha aconteceu, uma coisa que eu nunca esperei; a maternidade coincidiu com a morte do jornalismo que eu conhecia. Já não tenho a certeza de que, quando for por aí fora e fizer o meu trabalho, a minha reportagem chegue, sequer, a ver a luz do ar, a avaliar pela experiência dos meus camaradas.Mais vezes do que quero lembrar, condoí-me com demasiados camaradas enviados, como eu, para alguns dos piores sítios do mundo. Eles iam até ao Inferno para conseguirem as suas peças, apenas para, frequentemente, as verem mortas em Nova Iorque, por causa de algum fascinante novo ângulo encontrado... sei lá... nos “Twinkies assassinos”, ou no aumento de peso de Fergie, ou qualquer coisa assim. Sempre pensei que é moralmente inaceitável matar histórias que as pessoas arriscaram a vida para conseguir».

Um dos jornalistas portugueses que já se aventurou numa destas experiências mirabolantes foi Ricardo Alexandre, Professor da Licenciatura em Jornalismo da Universidade de Coimbra. Também é subdirector de informação da RDP e publicou à pouco tempo um livro onde relata os vários episódios de guerra que experienciou: "Palestina, Viver na Intifada". Atentem na última frase que ele pronuncia na entrevista: "Eu estou sempre disposto a ir. Mas não sei se estaria interessado em fazer disso uma actividade permanente. Com um filho de sete anos, e com pais, é um pouco complicado."

Pois é... parece que é consensual. Quem já esteve em cenários de guerra e sobreviveu deseja imenso voltar. Mas há sempre um problema (se bem que é estranho chamá-lo de problema.. apesar de neste caso ocupar esse lugar) que é a família e sobretudo os filhos. Como é que alguém se despede de um filho quando vai de viagem para o Líbano? Principalmente quando os filhos já têm plena consciência do local para onde o pai ou a mãe vai. Deve ser complicado! E muito!

Eu, como todos os jornalistas, gostava de ir um dia. Para um país que estivesse a viver um momento menos pacífico, retratar situações anormais, violações dos direitos humanos (que devem existir em tão grande número nestes palcos de guerra). Sentir o que uma guerra pode fazer a um país.. tanta coisa que nos deve passar pela cabeça e pelo coração nestas situações. Não consigo imaginar...! Observar um combate ou um bombardeamento é uma das experiências mais extremas da condição humana, e disso tenho a absoluta certeza: "o confronto armado atinge os locais mais secretos do coração humano, locais onde se dissolve o propósito racional, onde o orgulho reina, onde a emoção domina, onde o instinto é rei" (John Keegan).

Obviamente, e corroborando o que Christiane Amanpour e Ricardo Alexandre defenderam, quando hà uma família em jogo, e sobretudo quando há filhos, a escolha torna-se muito mais complicada. Tenho plena consciência de que nunca me deve ser dada essa oportunidade, mas entretanto posso ir imaginando o que sentiria caso estivesse no meio de um bombardeamento, ou com pessoas mortas à minha frente. Porque no caso do jornalismo de guerra, quanto maior for o horror, maior a dimensão do acontecimento e o impacto da história. Porque infelizmente há realidades menos boas que necessitam de ser retratadas e essa é uma das funções primordias do Jornalismo!

Este site também contem informação interessante: Comité para a Protecção dos Jornalistas

Comentários

Mooncry disse…
E mais: http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=4839&idselect=496&idCanal=496&p=0
Ledbetter disse…
Sempre podes ir treinando para o Ingote,não?;)
Mooncry disse…
Ou posso ir sonhando para o Ingote...Ou para o S. João de Deus no Porto, ou Cova da Moura em Lisboa. É só escolher ehehe ;)
*
A disse…
ou para a minha casa, aquilo tá sempre em guerra
Mooncry disse…
seria pouco ético.. conheço bem as pessoas! Mas não me importava de ir pa casa da tua vizinha... no outro dia vi-a no Parque! Ela não está cada vez mais corcunda!?
*
A disse…
ah!?...
esta foi provavelmente a resposta mais alucinante que recebi a um comentário até hoje, mas tentarei responder o melhor possível.

a minha vizinha não está corcunda, tem sim uma perna mais grossa que a outra e acho que é só isso, as minhas outras vizinhas para além da má disposição, não me parecem muito mal. quanto a ir para o parque, não me parece dado que o parque mais próximo fica a mais de 10km de distância... espero ter criado mais confusão por esses lados :D
Mooncry disse…
Que grande confusão, e já deves ter percebido porque: achava q tu é q eras o Rui! Estava plenamente convencida... é no que dá terem blogs aos parzinhos! Uma gaja confunde-se, sobretudo qdo são nicks ou nomes ou sei lá como chamam a isto, que nunca foram usados!!
De qualquer forma, estava a falar das vizinhas do Rui (de que ele já te deve ter contado... eu já ouvi a história umas 500 vezes...), das tres irmãs. Quer dzer agora só sobra uma.. que é uma verdadeira "personagem"!
Bem, desculpa a confusão... agora já sei! :)
A disse…
não, não... eu estou muito magoado, principalmente por ele nunca me ter contado essa história :p

o nick é só para manter o anonimato, dado que um dia poderei ser célebre e não quero que venham pegar com esta parte da minha vida :D

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