Avançar para o conteúdo principal

Hezbollah ou Israel: qual prefiro?



Na passada Segunda-feira, a manchete da capa do Público era: Mísseis do Hezbollah matam civis na cidade mais tolerante de Israel. É um verdadeiro insulto aos leitores informados e inteligentes. Já para não falar na prática jornalística que deixa muito a desejar.

Fala-se nos mortos provocados pelo Hezbollah como se Israel também já não tivesse assassinado uns quantos (neste dia havia registo de 24 mortos israelitas e 200 libaneses.. números suficientemente díspares para não provocarem um título destes, não?). E depois a expressão, "mais tolerante", também é incomodativa. Desde quando Haifa é mais tolerante que outras cidades do Médio Oriente? Porque é considerada a mais tolerante?
Mas o mais grave neste título é a ideia que ele transmite que se revela contrária aos títulos de jornais sérios europeus e até mesmo de jornalistas americanos responsáveis pelo seu trabalho. Estes dão o devido relevo à morte de civis no Líbano devido aos bombardeamentos israelitas, e à destruição do seu país. Ao contrário deste título do Público, que apresenta o Hezbollah como o grupo mais assassino.
Anthony Shadid, um jornalista americano do Washington Post, prestigiado com o Prémio Pulitzer há pouco tempo, encontra-se em Beirute e põe em evidência o carácter assimétrico da guerra. Megan Stack, do Los Angeles Times, descreve o cenário de destruição do Líbano, com pontes e estradas desfeitas e crianças mortas e esventradas. Uma realidade muito díspar da apresentada pelo Público.
Um dia antes, José Manuel Fernandes escreveu um editorial em que não encontrou um único motivo negativo para a actuação de Israel (estranho?). No dia seguinte aparece esta manchete na capa... Segundo informação do Clube dos Jornalistas, José Manuel Fernandes visitou recentemente Israel a convite do Ministério Israelita dos Negócios Estrangeiros, "mas as razões que subscreve tem raízes mais longínquas". Obviamente que o Público tem o direito de servir as causas que escolher (se bem que isso não é jornalismo, porque não denota qualquer imparcialidade), mas se o faz não pode argumentar que não o está a fazer, e que é um jornal imparcial e que não se move por interesses (que foi sempre um dos lemas deste jornal).
Ainda seguindo a fonte do Clube dos Jornalistas, "o alinhamento editorial do “Público” com as posições da direita americana não é novo."Há 14 anos, quando as tropas americanas desembarcaram na Somália, o Público qualificou em título a operação como sendo "humanitária".
Outro título do Público: "Rocket" disparado pelo Hezbollah cai junto a hospital israelita.
Hoje o panorama não é diferente. Na edição online, os destaques são dados ao posicionamento das tropas israelitas em alguns sitios no Líbano, e ao ataque feito pelo Hezbollah com este título: Hezbollah disparou vários "rockets" e fez pelo menos dez feridos em Israel. No final desta notícia vem a contabilização dos mortos: 100 combatentes do Hezbollah e 336 civis no Líbano por Israel, 19 soldados israelitas e 15 civis em Israel pelo Hezbollah. Estranhamente Israel já provocou mais mortes, no entanto, as que são provocadas pelo Hezbollah são muito mais noticiadas neste jornal...
É preciso destacar que não estou aqui a defender o Hezbollah ou a condenar Israel, apenas tento apresentar os factos. No caso do Público, como jornal dito de referência e que luta sempre pela imparcialidade, deveria fazer o mesmo.. apresentar os dois lados da história e não defender, quase com "unhas e dentes", uma das parte. Ou seja, o que defendo é a informação imparcial, que também deveria ser o objectivo fundamental do Público! Veja-se o Diário de Notícias e a forma como apresenta este assunto... e atenção que o Diário de Notícias também tem muitas lacunas. Só o apresento aqui para que a comparação seja devidamente feita.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Jornalistas na Guerra

Muito se tem falado das pessoas que saem (ou fogem) do Líbano, mas pouco se fala dos que vão para lá trabalhar. Porque alguém tem de estar no terreno, para contar aos ausentes, o que se passa. Profissionais, uns mais que outros, mas todos louvados pela coragem e sangue-frio que é necessário num cenário de guerra. Julgo que é o limite da carreira de qualquer jornalista, fotógrafo, cameramen.. não há nada mais dificil! Se se conseguir transpor este obstáculo, é possível fazer tudo! Em Setembro de 2000, na Convenção da RTNDA, Christiane Amanpour fez uma brilhante e emotiva defesa do jornalismo. Desse discurso retiro estes parágrafos, para que alguém os entenda, se souber entendê-los: «Disse uma vez a um entrevistador que nunca casaria. E que nunca teria filhos. Quando se tem um filho, disse, temos, pelo menos, a responsabilidade de ficarmos vivos. Isso foi há sete anos. Entretanto, estive casada dois anos e tenho um filho com cinco meses. Mas uma coisa estranha aconteceu, uma coisa que eu

Love U like in poetry...

«You could swim... like dolphins can swim We can be heroes... just for one day We're nothing, and nothing will help us But we could be safer, just for one day And we kissed as though nothing could fall ... just for one day...!» P.S1.: Perfeito o concerto dos Blind Zero de ontem à noite na Fnac. Se não fossem os "idiotas" que ocupavam o já de si exíguo espaço, apenas para ver nem eles sabiam o quê, beber umas cervejolas e ter atitudes de "portuga à zé camarinha", tudo teria sido mais e mais, ultra e super perfeito. Com uns encontrões e olhares demolidores consegui chegar à frente e aí entendi, que não era a que estava a gostar mais daquele concerto... eram os próprios Blind Zero! É por cada concerto ser um divertimento constante, pelo amor à música e ao grupo que, 13 anos depois, ainda andam por estas andanças. Apesar de, como disse o Miguel, terem a noção de que muitos os consideram como uma banda doentia, até os próprios pais! Mas acredito que cada um tem uma n

O sonho europeu!

Apesar de não termos vencido o jogo, o sonho continua... estava á espera que o resultado final fosse 0-1 ou 0-2, vantagem para o Barcelona! Mas pelos vistos, o Benfica até que joga bem (lol) ou então é o Barcelona que não joga assim tão bem ;) O que é facto é que não me sentia assim tão stressada desde a final da Taça de Portugal da época passada (mas isso também era por ter uma "certa" sportinguista ao meu lado aos berros... anyway!). Jogaram bem, defenderam bem (tirando algumas falhas do guarda-redes.. ) e o Benfica mostrou que está ao nível das melhores equipas da Europa, se nao do mundo. E, principalmente o Sr. Koeman não conseguiu agoirar (ele disse numa entrevista em Espanha que o Benfica não tinha qualquer oportunidade de vencer o Barcelona... é normalissimo um treinador dizer uma coisa destas antes de um jogo!!!) Só quero que fique uma questao no ar: O que é que o Beto ainda anda a fazer no Benfica??? Alguma alma caridosa que me responda por favor... isto tem me trans