Porque há coisas que me assustam e os skinheads são uma delas, e também porque, se de facto é verdade, invejo a coragem do jornalista italiano, Paolo Berizzi. Ser repórter nestas condições não é fácil pelos inúmeros riscos que se correm antes e depois da reportagem (sobretudo depois!), mas chegar à redacção depois de uma aventura destas tem seguramente, um sabor especial. De qualquer forma, ao ler a reportagem fiquei um pouco desiludida, estava à espera de mais: ele esteve em plena reunião e só consegui saber isto… soube-me a pouco. Mas para que não restem duvidas, aqui fica a reportagem na íntegra!
Reunião na Áustria
“Skinheads” atacam no Mundial
Um grupo de adeptos de extrema-direita elaborou um plano de acção para «semear o terror» no Campeonato do Mundo de Futebol, conta um repórter italiano infiltrado.
Braunau am Inn ainda está coberta de neve. Foi aqui, na cidade natal de Hitler, que os xenófobos mais agressivos do Velho Continente se reuniram para firmar um pacto nazi-fascista com vista ao Campeonato Mundial de Futebol (que se realizará na Alemanha, de 9 de Junho a 9 de Julho). O objectivo é desferir ataques focalizados, com vista a subverter todas as regras da coabitação civil durante o período do Mundial. Fazer zaragata em nome de Hitler e do ódio racial aos muçulmanos, em geral, e aos turcos, em particular – “Feinde zu vernichten” (Os inimigos a abater) – e, naturalmente, contra a polícia.
O documento assinado nesta pequena cidade pacata, situada na fronteira entre a Áustria e a Alemanha, estabelece um programa que causa arrepios na espinha: assaltos premeditados contra as forças de ordem, emboscadas aos adeptos “inimigos”, paradas nazis e fascistas, ostentação de bandeiras ornamentais com cruzes gamadas e cruzes célticas, símbolos SS, feixes de lictores, coros celebrando o Holocausto e outros cânticos da mesma natureza, como o assobio inventado por adeptos ingleses e holandeses para imitar o som das câmaras de gás. Um “hooligan” do Feyenoord de Roterdão veio especialmente para mostrar este assobio àqueles que ainda ignoravam a sua existência. Cabelos platina rentes à nuca, “rangers” violeta, testa marcada com uma cicatriz, emite um interminável «ssssssssssssssss». Deve ter 25 anos.
Foram “skinheads” locais, dizem-me, que organizaram o encontro. Conto as cabeças – nem todas estão rapadas – que se agitam no barracão: aproximadamente 70. A delegação italiana é numerosa: dez “hooligans” ligados aos movimentos de extrema-direita, como o Forza Nuova e o Fronte Vebeto Skin. «Olha para este inglês e não te rias!», exclama um extremista romano. O objecto da sua admiração é um “Blue lion” já com uma certa idade, velha guarda dos adeptos do Chelsea. Os seus braços, enormes e flácidos, estão cobertos de tatuagens, do Dragão à “svastika”, passando por palavras de amor, ligadas ou não ao mundo do futebol. Rodou-os, gritando «Bad! Bad! Bad!», numa antecipação ao caos que será criado pelos 10 mil adeptos ingleses (dos quais pelo menos metade – segundo a Scotland Yard – são “hooligans”), que vão assistir ao primeiro jogo da sua equipa nacional, no próximo dia 10 de Junho, em Frankfurt, contra o Paraguai.
Ao fim da noite, o ambiente descontrai-se e os fanáticos do Shalke 04 e do Bayern de Munique são os primeiros a lançar-se numa longa sequência de «Hitler-Grüss», a saudação romana-alemã. São seguidos por energúmenos dos Braunau Bulldogs, os “hooligans” da cidade que já tinham dado nas vistas, há um ano, numa sinistra perseguição às instalações do antigo campo de concentração de Mauthausen, que não fica longe. Aqui, a apologia do nazismo e a negação do Holocausto constituem um delito. Mas são pormenores a que ninguém na assistência parece dar a mínima importância. O que lhes importa verdadeiramente é programar encontros com a violência nas numerosas cidades que vão acolher os jogos do Campeonato do Mundo.
Os adeptos franceses do Olympique de Marseille, de “bomber’s” verdes e suspensórios parecem cordeiros. Seguem atentamente os trabalhos do primeiro congresso da Internacional neonazi. Aquiescem quando os alemães explicam que é preciso atacar a polícia longe dos estádios, nos locais mais inesperados, onde as forças da ordem estarão, portanto, em posição minoritária. Os franceses confessam que não previram nada de especial, mas que, durante os dois meses e meio que os separam do pontapé de saída do Campeonato do Mundo, esforçar-se-ão para que a França «não faça má figura aos olhos do mundo». Os holandeses – é um furo – confirmam que não renunciarão a apresentar-se na Alemanha com bonés nazis laranja (cor nacional neerlandesa), o que parece divertir muito um dos chefes dos “hooligans sur”, os adeptos franquistas do Real Madrid. Veio de Espanha de automóvel. Dormiu numa pousada com os franceses. É pintor da construção civil, como Hitler, que nasceu precisamente aqui em 1889.
La repubblica (Roma)
Paolo Berizzi
Onde se terão metido os nazis?
Num momento em que se debate com veemência na Alemanha a segurança do Mundial 2006, a reunião relatada por “La Repubblica” não teve qualquer eco na comunicação social do país, e muito menos na europeia: apenas o diário espanhol “El País” se interessou pelo assunto, reproduzindo nas suas páginas a reportagem. Quanto à imprensa nacional austríaca (“Kurier”, “Der Standard”), perde-se em conjunturas sobre este acontecimento, do qual não encontra vestígios. Contactados pela agência noticiosa austríaca APA, os serviços policiais de Braunau (Áustria) e Passau (Alemanha) afirmam que nem eles nem as autoridades locais tiveram conhecimento da reunião, tal como o proprietário do local onde alegadamente decorreu o encontro. O politólogo Andreas Maislinger, de Innsbruck, atira-se ao “furo” de “la Repubblica” nas colunas do diário regional “Oö-Nachritchen”, vendo nele uma vontade deliberada de “difamar a cidade de Braunau”. Contactado pelo Courrier Internacional francês, o repórter Paolo Berizzi confirma ter estado naquele local na tarde de 19 de Março e reitera o que escreveu.
Comentários
tens que meter assim uns parágrafos e umas fotos....tipo, como fazem naquele teu blog favorito: www.o-degredo.blogspot.com lol
vou de férias...
jinho
Ensinas-me? ;)