«O discurso de Cavaco Silva no Parlamento, na sessão comemorativa do 25 de Abril, coloca duas questões cujo laconismo violentamente contrasta com a necessária extensão das respostas. Cavaco disse, no essencial, 32 anos decorridos sobre Abril de 74, ter-se conseguido uma sociedade mais livre - mas não uma sociedade mais justa; segundo, que é necessário lutar para resolver tal situação.
A primeira pergunta é - porquê?
Como é que se chegou a esta situação?
A segunda é - como?
Como é que se resolve esta situação?
Convém dizer, antes de tudo o mais, que é uma falácia própria de quem tem do 25 de Abril a peculiar visão do actual Presidente da República afirmar que Portugal não é hoje uma sociedade mais justa do que no 24 de Abril salazarista. O facto de se não ter atingido o que desejaríamos e o que teria sido possível não pode fazer esquecer que não foram apenas a liberdade e a democracia que se conquistaram há três décadas. O que não conseguimos ou o que entretanto foi destruído não pode fazer esquecer o que se conquistou - e que urge defender.
Mas, na realidade, o que é notável é que um político que governou Portugal durante um terço dos anos decorridos desde a madrugada dos cravos, que foi dirigente do partido que mais tempo ocupou na governação deste período, nada tenha a dizer aos portugueses sobre as razões por que o País enfrenta hoje os problemas que enfrenta! Não era preciso subir à tribuna de São Bento para escutar o que se ouve quotidianamente nas ruas.Quanto ao porquê não houve, portanto, qualquer resposta.Relativamente ao como talvez já não seja exacto dizer que o silêncio foi igual.
O diagnóstico feito por Cavaco continha já elementos significativos: falou de exclusão, de violência doméstica, de desertificação do interior - mas sobre o desemprego, por exemplo, quedou-se no mais tonitruante silêncio. E não deixa de ser estentoricamente significativo que, no esquelético campo das "soluções", avulte, antes do mais, o aviso de que os portugueses não deverão contar com o Estado - antes com piedosos entendimentos a que Belém apela.Quando os políticos apelam à caridade, os povos sabem por experiência que não é dali que virá boa política.»
Ruben de Carvalho, Jornalista (DN, 27 de Abril de 2006)
Vi em directo as comemorações do 25 de Abril, e estranhamente (ainda um pouco a dormir) ouvi e vi que o Presidente da República de Portugal não levava o cravo na lapela! Não é grave... é apenas um símbolo como tantos outros... mas para quem lutou, sofreu e arriscou a própria vida no antigo regime fascista, soube a "azedo" esta falta do mais alto representante português.
Ainda mais a azedo soou o discurso deste antigo líder ( e será que não actual) da direita em Portugal... um discurso pontuado com preocupações sociais (depois do discurso soou e ressoou na minha cabeça as palavras: "criancinhas", "pobrezinho", os "velhinhos") e sem qualquer tipo de referência à economia. No entanto, um discurso pronunciado por um professor de economia (e tão bem apresentado nos media como um expert na matéria), num país à beira do colapso económico, e não fala de economia, ou finanças... é estranho! Há qualquer coisa que não entendo... e não me venham falar que o senhor mudou... porque há aqui nitidamente uma estratégia política ( e se não acreditam, eu empresto-vos os inúmeros livros que li para o meu "bonito" seminário). Ou ele está (talvez coerentemente) em ligação e perfeita harmonização com o actual Governo, ou então está a preparar o terreno para algo.
A UGT e a CGTP obviamente adoraram este discurso de poucos minutos (estranhamente pareceu-me o discurso mais breve desta manhã comemorativa no Parlamento)... mas a mim soube-me a pouco. Passaram-se 32 anos depois da "hippie" (hippie porque foi pacífica, sem mortes ou feridos graves... e com armas com flores... daí que não exista melhor palavra para a caracterizar) revolução que acabou com o fascismo, com uma ditadura que não deixava ninguém pensar, falar, agir livremente. A liberdade prevaleceu e renasceu em Portugal naquele dia 25 do mês de Abril... e não ouvi (peço desculpa se sou surda e de facto foi dita a palavra) no discurso de Cavaco, nenhum vez, num único momento, a palavra mais importante deste dia 25: LIBERDADE.
Agora que estou a analisar os jornais, acresce a questão: como é que este homem foi eleito? Afinal ele foi eleito por quem?
Ele não respondia aos inquéritos dos jornais, não queria debater com os restantes candidatos, não gostava de falar! Não apresentou as suas ideias (lembram-se do fabuloso debate com o Mário Soares? O antigo Presidente da República crucificou-o publicamente e ele não conseguiu defender-se minimamente), não apresentou soluções para a economia do País... assunto de que dizia entender o suficinente para salvar as nossas contas públicas. Não entendo e nunca entendi como foi possível ele vencer... não entendo como as pessoas podem vê-lo como o Salvador... quando há pouco tempo atrás ele foi o destruidor. Será que a memória dos portugueses é assim tão curta?
Eu votei Manuel Alegre!! E apesar de admitir que o senhor não é perfeito, nem nos debates nem na apresentação das suas ideias.. considerei que seria o ideal para o cargo de Presidente da República: pela sua postura, pela sua maneira de estar perante alguns aspectos referentes à política portuguesa, pela sua história. De qualquer forma, se não votasse Manel Alegre, não teria outro candidato em quem votar....
Para concluir, apenas quero afirmar o meu descontentamento ao ver a bancada socialista a aplaudir de pé o discurso de Cavaco Silva.
Ele é o Presidente da República do meu país... mas não é o meu presidente!
Comentários
Bj
O problema é que nao consigo meter paragrafos nisto... e assim os posts parecem maiores do que aquilo que na verdade sao... nhec!
Anyway.. edgar se eu fosse presidente admitia que nao tinha capacidade para o cargo e demitia-me... q é o que este gajo devia fazer!!!
Bjinhos para os dois :)